Disseco as províncias do coração. Segue intransigente mesmo na derrota, segue como nómada em busca do desejo perdido. Como pode o mundo ser tão pequeno se não te encontro, perguntou, cheio de verdade. O amor extraviou-se e esgotaram-se os upgrades. A lengalenga do tudo se transforma não acalma mesmo que a reconheça e saiba de cor. E devia bastar, devia bastar. Mas conheço a tua pele, sei a forma como prostras as mãos no sono. Reparo que estou sempre à tua procura. O problema, inventei-o agora, que já se foi o sol e que são precisos abismos para os poemas, é que nem sempre queremos o que nos faz bem. Ele escreveu: púpilas, papilas, pálpebras. Eu penso: as tuas púpilas, papilas, pálpebras. Acarinho uma dor que é apenas desperdício, dela não se pode fazer mais do que registar-se. “A tua sombra a sangrar na minha boca” é a consciência de que um nunca mais pode ser tão devastador quanto um nunca. É possível, tenho provas, e aí uma insustentável esperança, meu eterno retorno. É perigoso conhecer a felicidade. É injusto defini-la, dando-lhe um propósito, sentido de utilidade, como o é que lhe atribuamos única causa e efeito. É tão fácil confundir sintoma com razão, doutora. Há tantos caminhos, Marisa.
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