Eu conheço o meu nome.

Não sabe ler nem escrever. Anota números de telefone em rectângulos de papel que corta da caixa de medicamentos e coloca-os estrategicamente junto às fotografias da cómoda ou desenha bilhas de gás e laranjas para distinguir o número do homem do gás do do homem da fruta.

No outro dia, recebeu uma carta por engano (as casas dos poucos habitantes que restam no lugar – não chega a ser uma aldeia – não têm número de porta – não há sequer nome de ruas por ali –, pelo que é de supor que fosse obra de um carteiro novo, pouco conhecedor). Pediu-me que lesse a quem se dirigia, pois estava desconfiada que não era para si. Não parecia o seu nome no envelope. “Eu conheço o meu nome”, disse. Pareceu-me pura filosofia, da mais bela.

1 comentário:

maria joão moreira disse...

Sim, pura e bela filosofia. Muito bonito