Ainda bem que não é de amor que falamos nunca.

(...) Que violentas desrazões nos conduzem ainda
um para o outro, num abraço tão estéril?

(...)
Já só a libido nos consegue juntar,
uma vez por outra. Talvez seja triste,
e quisesses um pouco mais, algo parecido
com o amor. Uma certeza quase feliz.
Indolor. Mas não fomos nós que inventámos
os desabridos desertos do mundo,
esses que sentimos crescer na pele.
Não pedimos um nome, reivindicando com ele 
“um modo próprio de ruína”. Talvez o amor
não exista, triste palavra sem lume lá dentro.

Toco de novo as tuas mãos e já sei
quais serão os gestos seguintes - a cama larga onde repetiremos todos
os mesmos sítios do corpo, a vergonhosa
angústia de converter tudo isso
num poema sem graça: as tuas mãos.

(Manuel de Freitas, Closing Time, in Os Infernos Artificiais)

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