O medo chama o medo. É por isso crítico que não o demonstremos, como quando se diz que os cães o pressentem. Para o bem e para o mal, sempre adoptei essa manobra de diversão ou essa falta de lucidez. Como se a melhor estratégia de defesa fosse o ataque. Já dei por mim em sítios estranhos desses de meter medo. Chamo-lhe aventuras. Desta vez, porém, admito que fui imprudente para a minha sorte. Não que fosse extremamente tarde, mas talvez andar de mini-saia numa avenida mal iluminada, com poucos ou nenhuns carros a passar e sem outros transeuntes, palavra cara em ambiente paupérrimo, e onde trinta, quarenta ou mais, sem-abrigos de mau aspecto se encontram enfileirados e despertos e te olham como uma matilha contempla uma cadela com cio, à filme, não fosse a minha ideia mais brilhante para uma sexta-feira à noite junto à estação do Prado num caminho de mais de vinte minutos a pé até chegar ao sítio onde por aqueles dias chamava casa. Fiz o que poderia fazer num sítio onde seria ainda mais imprudente tirar o telemóvel para confirmar as direcções: andei em passo rápido, olhar em frente, confiante, uma mão no bolso e com a outra comendo o meu cachorro quente. Não me digas que sou um cão porque eu sou um cachorro quente. Morrendo de medo sem mostrar medo, dou por mim a confiar em virgens.
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