Não aprecio nem desgosto por aí além da escrita de José Luis Peixoto que teve na minha educação o seu tempo. Encaro-o como uma leitura de iniciação, como o foi primeiro a Margarida Rebelo Pinto e o Paulo Coelho. Tudo é cultura, afinal. Apenas há que uns são bestas mais céleres do que outros, como ele riria. Desarreiguem-se os preconceitos e esclareça-se por isso desde já que a sua ausência na estante tem tão-só um fundamento logístico. São estreitos os portões que conduzem ao paraíso. Mantenho, porém, um interesse egoísta no que possa existir de quotidiano e profundo na vida dos escritores, sobretudo os mais amados ou respeitados. Chego até a sobrepôr essa curiosidade às suas obras, como quem averigúa autobiografias e destrinça inspirações, factos, simulacros. Interessa-me mais a masculinidade de Hemingway e os rumores de impotência, as suas bebedeiras e lutas do que o vigor e brutalidade das suas palavras. Interessam-me as marcas do incêndio na Clarice e o que dali verteu, os abandonos e os apegos. Interessa-me o desprezo do Pacheco e o sentido de comunidade que encontrou na privação, as tantas raparigas que engravidou, as tantas casas que habitou tentando sempre fugir a novo escândalo. O maior filho da puta que por aí andava, um pulha pedinte e a foder tudo quanto mexia, sem respeito por ninguém e nem por si. E depois vai-se a ler e é um princípe e um génio. Interessa-me as horas paradas do relógio do Saramago e a sua devoção a Pilar, que o salvou. Sempre me interessaram as histórias dentro da história.
Daí que, estando lá perto, fui a Galveias.
Se é certo que primeiro surpreendeu-me o tamanho, não tão pequena assim, a conquista veio depois: do Café Central até à senhora que carregava sacos de compras e os adolescentes de piercings, todos sem excepção iniciaram um “bom dia” ao cruzarem comigo. As pessoas de Galveias fazem dela aldeia. Não encontrei outro vestígio do escritor que não a simples homenagem na praça junto à igreja, mas já não precisava. A resposta estava naquelas pessoas.
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