Volver

Pelo facto de no Sábado à tarde a SIC ter transmitido o filme "Mulher por cima", com Penélope Cruz, e depois de ter lido óptimas reviews acerca de, fiquei com uma enorme vontade de ver o mais recente filme de Pedro Almodóvar - Volver. Hoje foi o dia.

Nunca fui muito conhecedora dos filmes dele (acho que só vi o "Fala com Ela") e, apesar de lhe reconhecer muito profissionalismo, confesso que também nunca prestei grande atenção ao trabalho de Penélope Cruz. Pois bem, tudo mudou! :)

Achei que o filme estava excelente, verdadeiramente digno merecedor das óptimas críticas que tem recebido! E quanto a Penélope...UAU! :) Que interpretação tão magnífica (e, já agora, que olhos, que beleza, a mais bela iguaria espanhola!), no papel de Raimunda! Não é à toa que está nomeada para o Oscar de Melhor Actriz Principal e...torço por ela! :)

Volver não é propriamente uma comédia surrealista, embora às vezes o possa parecer (um "fantasma" tão real que quer pintar o cabelo? Uma "russa" que se peida? Que se esconde debaixo da cama? :D ). De surreal, diria que tem essa coexistência tão pacífica entre vida e morte, vista com uma admirável naturalidade (a Raimunda a limpar o sangue na cozinha, a pôr o corpo na arca e a enterrá-lo), capaz de criar situações que são engraçadas mas também cheias de uma profunda e genuína emotividade.

A história do filme gira à volta de, essencialmente, três gerações de mulheres: Raimunda, casada com um "desempregado que bebe demais" (uma maneira mais simpática de lhe chamar toda outra enormidade de nomes como...porco, nojento, vergonhoso!), e com uma filha adolescente chamada Paula; a sua irmã Sole, que vive sozinha e tem um salão de cabeleireiro ilegal; e a mãe de ambas, Irene, que é suposto ter morrido num incêndio juntamente com o marido, e que aparece para tratar dos seus assuntos por resolver com Raimunda e uma vizinha, Agustina, ou melhor, com o passado.

Na minha óptica, trata sobretudo do amor dos laços maternais, tendo como pano de fundo, o problema dos pais que abusam das filhas. Quase chorei quando Irene conta à filha qua já sabe o que aconteceu!...Faz-me confusão. Mostra o quanto somos animais, primitivos na nossa busca do prazer, não importa quem. Meu Deus, como é que é possível??! E além disto, supor que há casos de tolerância ou até mesmo de cumplicidade das mães! Repugna-me. Revolta-me. Sei lá!

E, curiosamente ou talvez não (o nosso cérebro tem desígnios insondáveis!), aquando dessa "confissão" entre mãe e filha, vieram-me à memória três coisas: a primeira, uma tomada de consciência que me assusta e aflige, a de que muitas vezes a realidade transcende a ficção; a segunda, um qualquer excerto de "A Casa Quieta" (de Rodrigo Guedes de Carvalho), em que a determinada altura é questionado duma forma provocatória como é que se pode transmitir educação sexual a uma menina abusada pelo pai; finalmente, uma citação de Margarida Rebelo Pinto - "todas as famílias são normais até as conhecermos bem".

Posto isto, resta-me recomendar, convicta e vivamente, este filme. Vale realmente a pena! Deixo aqui um "cheirinho", em que Penélope "canta" (na realidade é cantada por Estrella Morente) Volver...

Sem comentários: