"A legalização da eutanásia em Portugal é defendida por 39% dos médicos oncologistas , mas apenas 23,8% admitiram praticar esse acto se a legislação o permitisse. Dados obtidos através de um inquérito anónimo a estes profissionais da saúde, a que se acrescenta o facto de 20% já terem recebido pedidos para a prática da eutanásia e apenas 5% para o suicídio assistido. No entanto, poucos (apenas 11%) estariam disponíveis a praticar a eutanásia a pedido de outra pessoa."
Resultados surpreendentes e preocupantes, porque demonstram alguma inversão do que a ética médica determina", afirmou ontem o director do Serviço de Bioética da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, ontem durante a apresentação do estudo levado a cabo por Ferraz Gonçalves, pioneiro dos cuidados paliativos no país.
Os dados deste estudo, obtido junto dos profissionais de saúde que lidam diariamente com doentes terminais, estão sujeitos a várias interpretações, como referiram os dois responsáveis, sublinhando no entanto, que se deve abrir o debate à sociedade, porque não se conhece a sua opinião.
Para Rui Nunes, os médicos "podem ter mudado de opinião, ou esta é uma forma de demonstrar o seu descontentamento face à evolução da sociedade". Isto é, acrescentou, "vários estudos indicam que a maioria que solicita estes actos não o faz pela dor física, mas por uma dor psicológica tratável". Logo, sublinhou, "há que alterar o Serviço Nacional de Saúde e dotá-lo de uma verdadeira rede de cuidados paliativos".Ferraz Gonçalves salientou que "alguns dos pedidos feitos pelos doentes poderiam ser evitados, desde que existissem cuidados paliativos e não o abandono de doentes terminais".
Quanto à diferença que existe entre os médicos favoráveis à legalização e os que praticariam a eutanásia ou o suicídio assistido, não foi dada uma explicação clara, apenas foram apresentadas algumas especulações."Uma razão pode estar relacionada com o código deontológico (que agora vai ser alterado) que não permite e até pune tais actos, como a Interrupção Voluntária da Gravidez . A outra razão pode ser uma questão de princípio - a finalidade da medicina não é tirar vidas, em caso de legalização outros a podiam fazer".
"Sempre se praticou a eutanásia em privado"
"Defendo que se deve legislar rigorosamente sobre a matéria, o que implica a monitorização das situações onde o médico assistente pode fazer, o que se chama de morte assistida. Um exemplo recente disso, foi em Espanha, uma mulher presa a uma cama há mais de 15 anos que pedia para morrer e o que os médicos fizeram foi desligar as máquinas que lhe garantiam a sobrevivência. Chamaram morte assistida, mas foi eutanásia. A eutanásia só pode ser feita com a permissão do paciente, vontade que exprimiu de forma consciente e congruente com a realidade médica, porque se trata de um acto médico, de conferir dignidade à morte, evitando o sofrimento inútil e vazio, com controlo rigoroso. Nesse contexto, sou claramente a favor da eutanásia, que sempre se praticou em privado".
"Não se pode permitir a banalização deste actos"
"Sou contra por várias razões. Primeira, por uma questão de princípio, a vida humana não é um bem disponível. Por outro lado, está provado que em 99% dos casos das pessoas que pedem a eutanásia não estão em condições para o fazer do ponto de vista ético. Isto é, a generalidade dos doentes com cancro acabam por desenvolver uma doença afectiva, que é tratável. Os 20 mil casos de cancro anuais certamente têm pensamentos suicidas, mas a solução não passa pela eutanásia, mas sim pelo tratamento. Depois, há também a questão ética. Uma coisa é avaliar um acto concreto, outra é legalizar uma política que tem consequências. Não se pode permitir a banalização destes actos, como aconteceu na Holanda. Corre-se o risco de se estender essa liberdade a crianças e a pessoas inconscientes, incapazes de decidirem por si. Neste caso, permite-se que alguém decida pela vida ou pela morte de uma outra pessoa"."
in JN de ontem
Como costume, surgem comentários muito pertinentes aqui. De igual modo, gostei de ler isto, aplicável também ao post anterior.
1 comentário:
Quanto a isto pouco há a dizer, a não ser que a eutanásia devia ser um direito...se alguém decide , depois de pesar os prós e os contras com ajuda especializada, que já nada faz neste mundo...acho que ninguém se deveria meter no seu caminho.
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