Peter


Quando chegámos manifestaram-se de imediato, aproximando-se das grades. Alguns entusiasmados, outros desconfiados, todos sozinhos. Outros, aqueles que estavam lá há já demasiado tempo não fizeram mais do que levantar calmamente os olhos: já não acreditavam. Eram muitos e a maior parte deles corria livremente naquele espaço, que é sempre pequeno. Os mais jovens brincavam entre si ao toca-e-foge, os mais carentes seguiam atrás de nós, sempre por detrás das grades, reclamando um carinho adicional. Vimos depois que eram ainda mais, mais do que os que poderíamos sequer imaginar: lá atrás, os anciãos, os doentes, os rebeldes, os bebés. Existiam de raça e sem raça, os bonitinhos e os outros, aqueles que sabemos que, à partida, serão menos desejados. Vendo o meu olhar para os mais velhinhos, o senhor informa-me que não os abatem, que os deixam ficar até ao fim, todos temos o nosso ritmo natural.

Todos eles, com mais ou menos esperança, lançavam-nos olhares de chamamento, "escolhe-me a mim, escolhe-me a mim". E é tão difícil escolher quando queremos salvar todos! O Peter tem agora uma nova casa e hoje, quando fui ver como se estava a adaptar, tratou-me já como família em lambidelas de devoto agradecimento e isso deixou-me tremendamente feliz. Tenho para mim que o amor de um animal é um dos tipos de afecto incondicionais. Tenho a certeza que quem abandona um animal nunca amou e nunca esteve num canil.

3 comentários:

Anónimo disse...

Há 8 anos, encontrei à beira da estrada um cão pequenino. Era tão feio tão feio que pensei "se não ficar com ele, ninguém ficará". oito anos depois, aquela esfregona andante traz me ouriços de presente, ataca os touros que se aproximam da rede e ainda sabe fingir se de morto quando o encontro debaixo de um móvel e lhe digo que o lugar dele é lá fora. O amor de um cão é incondicional. Diverte-te :)

Marisa disse...

Uma história feliz. Obrigada por partilhares. :)

Infelizmente, estamos todos a modos que traumatizados com a má sorte dos nossos amados cães: A Farrusca, o Tico e o Teco, o Deco, o Scolari, o Johnny, todos desapareceram recentemente das nossas vidas, vítimas de roubo ou atropelamento ou envenenamento ou até mesmo ataque de um cão maior. Foi muito triste. :( Já para não falar do meu Danny, cão de companhia, que morreu de velhice e que foi sempre o cão da minha vida.

Agora temos o Strike, o Feeling (também apelidado de Pirlim ou Herança) e, o mais recente membro da família, o Peter. :)

O amor de um cão é, de facto, incondicional.

Papoila e Orquídea disse...

É tão tão bonitooo...

Quando é que o trazes para o passearmos as três? 0=]

Beijinho