Your so happy now, happy in a lie.


(unless)

Reflexões críticas na releitura ou O meu mal necessário.

Tenho vida mas não consigo assegurar se é própria. Escrevo o que hesito em dizer, por feitio ou cobardia.

Ser o sol, todos os dias, na despedida.

Sou uma parte ínfima de todos os caminhos que se poderiam ter seguido, pudesse tocá-los a todos. Tantas as pessoas, os momentos, as conquistas, as dores e os amores, tantas as palavras, tantas as cores, tanto mundo e tanta vida para um único quarto de século, eu aqui e agora. Oiço-te, penso-te, e intermeio entre este sentimento de ser mais um instante fugaz como o pôr-do-sol e entre a alegria dele suceder todos os dias na mesma partilha. Ser para ti desses momentos sem espaço e sem tempo, como o sol que se deita todos os dias no mar.

Fundamentos: XII

O entusiasmo apaixonado que colocas nos assuntos que te são percurso de bater o coração e que permite, clara e finalmente, entender a razão de todas as coisas. Mas, ao contrário do verso, não eram todos os sonhos do mundo. Dentro de ti, todos os caminhos que poderiam ser.

Eras tu a falar p'ra esconder a saudade, e eu a esconder-me do que não se dizia.

Não era a mesma coisa porque nunca poderia ser a mesma coisa, isso é por demais evidente. Noutros tempos, era algo tão imenso que não nos cabia nas mãos, algo que nos consumia e não sabíamos o que fazer com aquilo. Agora é algo que se consome e que se usa com parcimónia, conforme a vontade e a disponibilidade. Dir-se-ia que amadureceu por necessidade ou simples passagem do tempo, e resultou nisto, sem exageros, pressas, promessas. Depois, como na música, seria eu a convencer-te de que gostas de mim e tu convencida de que não é bem assim.

Depois eu esforçar-me-ia para ignorar o que sei e o que não quero saber. Confundir, enganar, mentir. E podemos até fingir que isto não nos respeita, e que são lirismos cheios de atrevimento que encontrámos num texto qualquer, se preferires. Podemos dissecar toda a estrutura e os diversos significados até concordarmos que isto não passa de uma tentativa corriqueira de dizer qualquer coisa indizível, que dizes? Podemos usar sotaques diferentes, personagens novas e encantadas e nada disto nos pertencer. Não se diga mais nada se pudermos sentir tudo, saber ver o que é de ver e provar o que é de provar. Anda comigo brincar à vida porque é também o meu nome na boca da noite e não preciso de nós, só de laços. E peco só mais uma vez para ter os teus olhos sobre os meus. Todo o fogo que vem do pecado, pelos teus olhos límpidos sobre os meus de novo.

Romeiro, romeiro, quem és tu?

Desconfio cada vez mais do meu instinto, porque a sobrevivência é daquelas coisas cheia de esperança e a esperança pode ser um perigo em pessoas sonhadoras. O medo é preferível, deixa-nos atentos, menos susceptíveis à queda. Protego-me assim, num engano voluntário e consentido sobre o que não consigo ignorar ou decifrar. Mas quantas, tantas vezes, gostaria de mal-entender os meus mal-entendidos.

Da próxima vez vou querer toda a tua atenção.

Dentro muda tudo ou Deus é a nossa mulher-a-dias.

A utilidade é sempre proporcional à necessidade.

Fundamentos: XI

Como proteges o bom uso da língua, com todos os tempos verbais e todas as pessoas conjugadas. Como implicas sempre com a utilização que faço da adjacência verbal, nomeadamente, na que respeita aos pronomes pessoais átonos. Como não precisarias de pesquisar para saber do que falo ou o que se diz de algo que é putativo. Como fazes bom uso da língua e defendes a palavra dita.

Na verdade estamos aqui fodidas porque também somos umas putas (já temos sorte de ninguém mais o saber).

Registe-se por aqui que valter hugo mãe tornou-se, a cada leitura, o meu autor preferido depois de Saramago. Há uma sensibilidade tão natural nos seus livros, sem contudo ceder a pieguices fáceis ou metáforas pretensiosas, que o confirmo sempre nas primeiras páginas. Além do mais, são poucas as pessoas que metem assim a descoberto os diferentes lados do vocábulo, sobretudo para o sexo, sem ordinárias descrições que chegam a ser ridículas de tão artificiais e sem o estorvo do pudor pois, como me ensinaste, não existem palavras feias ou más. Que alguém entitule poemas como "coisinhas preciosas para meter no cu" ou escreva "fazia-lhes sexo oral como quem estivesse com sede e não houvesse água no mundo" é por isso merecedor não apenas da minha atenção mas também da minha mais sincera admiração. Parece que sou uma fácil.

Alentejo, tempo para ser feliz.

Quando acordei hoje de manhã já era outra vida e tudo era mais uma vez mentira ou sonho, quantas vezes a mesma coisa. Este céu não é aquele de sol, estas pessoas falam outro idioma, os carros andam ao contrário. Deixei a bicicleta no molhe leste e as corridas de carros na sala, a comida da minha mãe na cozinha, é outra a minha casa-museu. Há um rio que não é mar, há risos que não são os delas, ventos que aqui sopram diferente. Foi a pensar nisto que troquei a geografia toda e disse hoje "bom dia" ao porteiro que, naturalmente, não me entendeu e ficou a olhar para mim. Ainda assim sorriu e ainda assim sei que as minhas saudades são tão inconstantes como ela quando liga inconstantemente para a operadora.

Cada viagem é um estalar de dedos como magia, agora estou, agora não estou, agora sou esta, agora sou outra, e tornei-me tão boa nisto que consigo até ser várias num só sítio. Não é diferentes momentos da vida, são várias vidas, várias pessoas. Multiplico-me, divido-me, estranhas contas as de quem sempre se deu mal com os números, e deixo pedaços do meu corpo por aí a quem procura casa, um pé aqui, uma mão ali, a cabeça acolá. Contigo, que és minha terra e meu destino, tenho a certeza de ter deixado o coração, a ilusão de saber-me inteira.

(o título pode enganar: tenho pouca relação com o alentejo. todos os meus caminhos são de levar a outro sítio)

Moo points ou Máxima da Inutilidade

Queixarmo-nos de algo sem fazer algo a respeito tem tanto de útil quanto bater às palmas quando o avião aterra.

Alta definição ou Esta música não me acende

Não gosto de pessoas que dizem que até suportam outras (gays, pretos, egoístas, o que for) desde que estas não se metam com elas. A tolerância hesitante e condicional, que só serve à distância, tem muito pouco de tolerância, acredito.

Tás a ouvir?


Fundamentos: X

Como escreves as palavras mais simples e que chegam mais directas ao coração. Nunca escreves só porque sim e por isso escreves pouco. Como escreves sem pensar, porque o que é natural é bom, e saem sempre na forma, tamanho, peso e cor certas. Como quiseste um dia dormir com as minhas mas eram as tuas as melhores amantes. Como evocas e invocas a escrita que tento. Como cedo sempre às tuas palavras ao ponto de querer escrever como tu. Como gostaria de ser sobre quem escreves, um rascunho secreto.

Por ti arriscava dançar.

Não é um estímulo exterior que conquista e invade o espaço interior; é tudo o que explode dentro e que, não se contendo, extravasa. Vem-me do mesmo sítio que me ocupas. Mas não é uma sensação ou uma excitação, não é uma centelha ou um capricho. Como o dizer? É este fogo, este fogo que cresce dentro sem te queimar.
 
(e sonho coisas impossíveis, como fazem os loucos)

Maux et mots: Santa Bárbara de Nexe

É preciso falar por falar.
Nunca fales para dizeres qualquer coisa.
Evita a sinceridade,  foge dela, ninguém te escutaria.
As palavras, as palavras verdadeiras são mudas.
Escreve com vento, escreve, escreve depressa.
Escreve de dentro.
Escreve de olhos fechados.
As paisagens estão em nós.
Não vou descrever os mares e as terras, não, que fechem o livro, que vão eles ver...
A escrita fica no exterior.
A escrita não pode encerrar-se numa página. 
És tão louca como as tuas palavras, excitas-te, uivas, arranhas o papel.
Encerras palavras  numa folha de papel, fazes o que fazem os atrasados que escondem nos bolsos papéis rasgados, fósforos queimados, uma mosca morta, tudo o que encontram, segredos, a visão deles, um mundo tranquilizante.
 
Emma Santos, O Teatro

Correr a cidade duma ponta a outra só para te dizer boa noite ou talvez tocar-te e morrer.

O desejo é sempre urgente. Como um desespero que só se acalmasse quando o meu corpo desaba para dentro do teu, com o grito dos versos e das bocas. Poder-se-ia até supor que me fazes falta ou que te quero neste instante. Poder-se-ia acreditar que conto todas as horas que te demoras e que te reconheço gloriosa a lembrar-me a natureza dos meus instintos. Poder-se-ia dizer histórias antigas, suores e salivas, fascínios de espécies variadas, morais de tudo e de nada. Tudo se dissesse, acreditasse, supusesse, e só ficava este desejo de agora, sempre urgente, tão insistente. Por ti.

Fundamentos: IX

Como acreditas convictamente que podes ser e fazer o que quiseres e por isso és e fazes o que queres.

I showed my heart to the doctor, he said I'd just have to quit. Then he wrote himself a prescription, your name was mentioned in it.

Guardo fotografias como quem guarda relíquias e debruço-me sobre a memória como quem se debruça sobre o teu peito.

Estudasses

Não é ser médico, advogado ou engenheiro. Na aldeia, o que qualquer pai mais ambiciona para um filho é que este possa vir um dia a trabalhar no banco.

Das métricas I

Só conta se estiver na lista.

Melhor do que tu procuras, é quem tu tropeças.


Fundamentos: VIII

Como és a noção mais viva de liberdade que conheço. Como a defendes, como a respiras, como a vives em cada gesto, em cada ideia, em cada palavra.

The things that keep us apart keep me alive and the things that keep me alive keep me alone.

Eu não pergunto e tu não falas disso mas eu sei e tu sabes que eu sei. Eu não ofereço e tu não pedes mas nessas noites abraço-te sempre, porque eu sei e porque tu sabes.

All good things are wild and free I

Quando chegaste eu sabia pouco disto. Talvez hoje tenha só ganho na ilusão de saber mais qualquer coisa, coisa pouca, talvez. Quando te peguei ao colo a primeira vez, não sei de quem foi o medo maior e vejo ainda o olhar assustado deles, não vá o menino cair. Nunca esperei ser eu, nunca fiz questão de ser eu, pessoa tão desprendida dos outros e tão pouco dada às naturais expressões dos afectos. Não era suposto. Se calhar estavam distraídos ou só sabiam da missa a metade, desconheço a razão. Chegaste-me por isso com a estranheza de tudo o que é novidade e com a mesma ansiedade de quem leva uma missão. Como foi que cresceste tanto desde o primeiro dia em que te vi?

Hoje fazes seis anos e eu encho-me de sentimentalismos sem entender como pôde o tempo ter passado tão rápido quando ainda ontem tu eras assim bebé, como tu dizes. Tens a melhor memória que conheço e os caracóis mais bonitos, o sorriso mais franco, livre de mal-entendidos e de tristezas, e a pele mais fofinha e só seguida de muito perto pela dela. Mas o que me lembro sempre de ti como preciosidade é o abraço, porque nunca ninguém me abraçou assim, porque eu nunca abracei ninguém assim, porque são sempre poucos os abraços que damos. Um abraço que é livre e descomprometido, que não tem obrigação nem intenção, que não é reacção mas só uma vontade muito grande de dizer que gostamos um do outro. Dentre as coisas de que me envaideço, encontro sempre o teu abraço, meu principezinho das pestanas mais bonitas. Se precisares de crescer, admito que deixes de rir às minhas caretas e de me chamar para fazer puzzles ou ver desenhos animados contigo, mas que se conserve o teu abraço.

Hoje fazes seis anos e penso que és muito mais do que aquilo que alguma vez esperei de ti, mais pelo meu fraco conhecimento destas coisas do que por ser pouca a tua competência. Quero-te mais bem do que eu saberia ser possível até aqui. Para ti, está a vida toda à disposição como quem espera, o amanhã repleto de caminhos, decisões, aventuras e desventuras, tristezas e alegrias. Mas não te darei conselhos, se deles está o mundo cheio e com tão pouca valia. A ti, dou-te o amor certo que se guarda para cada abraço, enquanto crescemos juntos.

Que tragam cobertores ou mantas, o vinho escorra pelas gargantas e a festa dure até às tantas III


Que tragam cobertores ou mantas, o vinho escorra pelas gargantas e a festa dure até às tantas II

Que comece o jazz porque o meu 25 de Abril não é da liberdade mas é sempre dia dos teus anos e tu existes ainda e vens, já quentinho - como diria a avó - e sentimental, a pousar a mão na cabeça dos teus netos como quem deita bênçãos.

Que tragam cobertores ou mantas, o vinho escorra pelas gargantas e a festa dure até às tantas I

Um gesto heroico não faz um herói. A liberdade não tem paternidade.
 
(tenho pouca paciência para os Capitães de Abril mas menos ainda para quem os vê como santos, mártires ou, pior, salvadores da pátria. quanta gente gosta de encher a boca para dizer "pátria"!)

Que tragam cobertores ou mantas, o vinho escorra pelas gargantas e a festa dure até às tantas.

Corria que tinham prendido o Manel Sapateiro e ouvia-se falar de mais uma ou outra pessoa que andava na mira da polícia. Também o meu padrinho acredita ainda hoje que o pai esteve preso porque a mulher da taberna o bufou. Porém, a memória mais viva do 25 de Abril que a minha avó guarda é a de que era dia de feira na cidade e, na confusão dos tanques e tropas a dirigirem-se para a Fortaleza, uma mulher de uma aldeia vizinha aproveitou para levar, sem pagar, os sapatos que experimentava.
 
O 25 de Abril não passou pela aldeia e é ainda algo que se conta sem se saber ao certo, como um rumor.

Alta definição ou Esta música não me acende

Não gosto de pessoas com ideias absolutas sobre assuntos que são, por natureza, tão relativos. A História, por exemplo.

Would you run away or would you run to me?


Fundamentos: VII

Como as tuas ideias simples perturbam a minha existência tendencialmente complicada.

Hopeless romantic seeks filthy whore.

Há dias em que sou feliz simplesmente com o eco das intenções.

All good things are wild and free.

Vemos A Bela e o Monstro juntos. Olha-me surpreso e assustado enquanto pergunta:
- Madrinha, por que é que estás a chorar?
 
Quando o deito, descubro que ainda adormece agarrado ao Sr. Bigodes e ao Poo e que entala as calças do pijama dentro das meias. Olho-o no sono. A vida é subitamente perfeita.

Eu finjo que sou de pedra, que sou dura na queda.

Não te beijei, não te abracei, nem sequer te disse olá. Abri a porta do carro e disse-te para seguires aquele outro, depressa. Depois disse que me embaraçavas. Que detestava os teus pontos de interrogação. Depois ainda, chamo-te galdéria e mais um ou outro nome carinhoso. Entendemo-nos assim. Talvez tu sejas a pessoa que melhor me conhece e eu seja sempre a que mais precisa de ti. Talvez a amizade seja assim e tu me tenhas feito falta, o que se diz das saudades.

They go to bed with Gilda, they wake up with me ou Só tenho o blog para declarações.

Gosto de ti além de qualquer conceito.

Memória e raiz ou Ninguém sai donde tem paz.

O meu quarto é, cada vez mais, uma biblioteca-museu.

Ser-te útil, só mais uma vez.

Parece que sim, que agora é diferente.

O riso é diferente. O silêncio é diferente. O tom é diferente. O idioma é diferente. O abraço é diferente. O cheiro é diferente. O gosto é diferente. O toque é diferente. As palavras são diferentes. As canções são diferentes. As histórias são diferentes. Os gestos são diferentes. Sim, tudo é diferente. E até mesmo a justificação que daríamos, eu e tu, para explicar esta diferença, seria diferente. Mas és tu, mas sou eu.

Das métricas

Só conta se estiver no Womanlog.

La douleur exquise: better to have been with than live without it.

Às vezes é preciso que chegue a realidade de todos os dias para confirmar que a parte mais bonita de nós é sonho. Hoje, tudo isto parece-me irreal, como um hiato de sonambulismo que, por uma vez, se reconhece. Pause, play. A vida que poderia ser, parece-me que foi ontem. E foi.

Independente do que aconteça.

Basta soprar (por baixo, o fogo, vivo).

A palavra que não te digo, aquela, implícita, guarda-a entre as tuas mãos. E depois liberta-a à noite, quando eu tiver partido para um tempo irrevogável, para que possa ecoar vida afora dentro da memória do corpo, misturada no canto de uma canção que mais ninguém conheça. Amar-te e partir, para nunca mais fugir àquela palavra.

Chegas suave, conheces-me bem, tens as palavras certas e a ternura também.

Qualidade de vida é conservar-se ainda o teu cheiro sobre a minha pele.

Nenhuma sílaba foi perturbada.

Não é a doença que o preocupa, pois essa passa por ele inalterada. Mais desespero houve em todos os amores perdidos, os incêndios flagrantes do seu horto, do que na doença. Fala dela, sim, mas como quem poderia dizer que hoje chove, a única distância admissível ao inevitável. No diário, regista "queriam que falasse mais da doença?" mas o rosto irreconhecível, a queda do cabelo e dos pêlos pûbicos no dia de Natal, a pele que vai caindo, os exames e os comprimidos, o mijo, são descritos factualmente e sem adjectivos ou concessões. A vida é o que é. Só a caligrafia cada vez mais mutilada o perturba, só a escrita cada vez mais impossível. Mas a vida é o que é.

(comecei e acabei de ler o livro no mesmo local, com quase um ano e meio pelo meio. finalmente, pode agora fechar-se em paz.)

As revoluções não fazem mudanças; conduzem a elas.

Nada como desafiar o conceito de liberdade para se perceber o quanto o mesmo é desvirtuado em Portugal. A liberdade não é 0 25 de Abril. O "Mural da Liberdade", pela SIC, é um abre-olhos.

Seja do dinheiro, dos amigos, dos amores, dos momentos, das memórias.

Não é quanto ganhas, é quanto guardas.

Who gives a fuck about an Oxford comma?

Poupe-se o estudo e o uso de outros tempos verbais porque o passado é sempre mais-que-perfeito.

Alta definição ou Esta música não me acende I

Não gosto de pessoas que confundem verbos e pronomes, nomeadamente, o pretérito imperfeito do conjuntivo e o presente do indicativo (ex: lavasse e lava-se). Pior do que isso, só o uso exagerado de pontos de exclamação, interrogação ou reticências. Não precisam de saber o que é a vírgula de Oxford, basta terem uma mera noção daquilo que é ou não adequado.

Alta definição ou Esta música não me acende

Não gosto de pessoas, homens ou mulheres, com sapatos de vela.

Em que lado da memória escondeste o mar?

Podes vir quando quiseres, já fui onde tinha de ir.

Há dias em que sente-se na tua voz o mesmo toque da pele. Nesses dias, a tua voz não é coisa de ouvir mas de tocar e acariciar. É uma voz de agarrar e puxar para mais perto, uma voz com corpo. Agora só te quero ouvir.

Faz-me rir e eu prometo que nao te faço chorar.

Na superfície da palavra que se precipita inevitável, sou sempre injusta. Não posso escolher se sou injusta comigo mesma ou com a imagem que fiz de ti. Não sei dentre as duas qual a mais (ir)real mas sei a que melhor devo proteger.

(às vezes, numa imediata lucidez, percebo por que é que nunca quis manter nenhum diário.)

The art of always wanting what's impossible to get, do, or have.

Tem a sua piada: perdi uma coisa e nem sei o que seria.

E, porém, só o conhecido pode ser perdido e o desperdício só ocorre em face de alternativa melhor.

Hunt or be hunted: promiscuidades.

Gosto de ser abordada por headhunters.

Serei sempre fiel à amizade, mas não ao amor.


Às vezes quero que as palavras se fodam.

Hello, my name is cli.

Raramente sinto saudades, pelo menos daquelas que as pessoas falam. Raramente me sinto longe. Sou uma estrangeira de poucas saudades. Mesmo à palavra, dou-lhe pouco uso para que não faça casa. Acredito que as saudades foram feitas para as coisas que não voltam e, da vida, só acredito num par de coisas definitivas. Permito-me por isso poucas saudades, porque a maioria delas me parece sempre resolúvel. As minhas saudades são a camada mais profunda da pele. Da sua profundidade, o problema é o que sangra quando acontecem. Ri-me dentro do vosso riso enquanto vos ouvia em diferido e quis tanto estar aí, fazer convosco aquela viagem. Não sei se alguém reparou.

Em que momento arriscaste a razão por alguém?

Palavras de clarificar e palavras de magoar. Só. Pessoas que abusam sempre e pessoas que são sempre um abuso. Fosses ao menos uma noite que se consumisse toda na vontade, só outra pessoa qualquer que se encontrasse por aí para queimar o desejo, ser eterna por um par de minutos sem mais tempo, mais espaço, mais ninguém e logo depois se esquecesse. Ser outra, como todos os outros. Não cabes em lugar nenhum. Faça-se agora segundo a tua vontade.

São os teus olhos.

Não é um comportamento novo, é o que sempre lá esteve, visível ou encoberto. É quando o que antes aproximou é agora o mesmo que afasta - um modo de rir, uma expressão gasta, todas as palavras subitamente incompreensíveis. Aquilo que te pode seduzir é também aquilo que te pode destruir, como o peixe que sempre morre pela boca.

Da Jonet ao poliamor

A educação de um povo mede-se pelos comentários que coloca no Facebook.

Alta definição ou Esta música não me acende

Não gosto de homens que usam um perfume mau. Pior ainda se se encharcam em perfume.

This, right here, is poetry.


Tell me: would you like that?

Não queima então não chega.

Nenhum sentimento é mais forte do que um instinto, nenhum intento mais resistente do que uma vontade, nenhum gesto mais denunciador do que um olhar. A palavra só existe no corpo, quando todas as resoluções ficam comprometidas ao abandono da boca, pronta a acontecer. A palavra que busco, só a encontro dentro de ti. O resto são histórias, tudo o que se cala pelo meio.

Ao cão de lume que tens de guarda ao coração:

esperar que teus olhos se pousem nos meus. esperar que a chuva pare e tu irrompas na claridade das nuvens abatidas sobre o mar. esperar um gesto, uma palavra que faça o corpo mover-se em direcção a ti. mesmo que eu o não deseje. mesmo que o mundo desabe nos lábios sobre os lábios. e nenhuma palavra seja possível tornar-se à flor da saliva. amo-te, se era isso que querias ouvir dizer. amo-te no silêncio e no medo de despertar em mim as palavras que tu entenderás. e me comprometam, e me desarmam. amo-te vagarosamente. peço-te, dá-me Tempo para que as palavras se formem e tomem sentido, se organizem de modo a serem fala simples e imediata dá-me tempo para reconhecer meu corpo esquecido algures na treva duma memória que eu tento esvaziar. dá-me Tempo para aperceber de novo a falsidade dos espelhos, e de novo construir a minha sombra, o meu reflexo, a minha solidão. dá-me Tempo, Tempo infinito para que a voz cresça e se transforme em canto. Tempo, quero Tempo, para redescobrir a dor.

Al Berto, Diários

I may not have gone where I intended to go, but I think I have ended up where I needed to be.

Tentamos uma insistência paciente a medo de desvendar a ilusão, por aborrecimento ou esperança. Como são os caminhos sítios de ir e voltar, só as partidas poderiam confirmar os regressos. Não sei quando regresso ou se é desta que parto. Agora só os teus olhos para esclarecer tudo isto. Adia-me com a convicção que existe em todos os instintos, que se seguem sem pensarmos neles, e permite que reencontre o meu destino entre as linhas das tuas mãos.

Devorar-te noite adiante. Mentir-me. Mentir-te.

Da constância.

Não é como sobreviver ao extraordinário impetuoso que tudo muda. É como sobreviver ao ordinário quotidiano, sempre igual.

Da ignorância como benção.

És uma intriga em mim e, talvez reconhecendo de antemão os limites do que me é dado a conhecer e do que é a ser conhecido, não me rendo mas antes me incito. O teu mistério é o meu móbil e o meu álibi.

Nós não somos do século de inventar palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas.

Aquele momento estranho em que descubro que palavras que queimei para que os sentimentos ardessem com elas, escritas numa noite de verão do ano passado entre fumos e vinhos, foram escritas quase iguais por outra pessoa há quase trinta anos. Na vida pouco há de inédito.

chove, é preciso cultivar a solidão, de vez em quando (Al Berto)
apresso a vida e anoiteço cedo, é preciso continuar a trabalhar a solidão (eu)

(tivesse eu semântica bastante para entender que continuar a trabalhar algo é o mesmo que cultivar e poderiam chamar-lhe coincidência)

Ah, o meu País.


(amigos, tentem antes o LinkedIn.)

Reflexões por ocasião da preparação do frikadeller ao descobrir que pimenta-preta chama-se pimenta-do-reino no Brasil ou Por vezes a realidade distrai-me.

A democracia tem tanto de útil como de sobrevalorizada.

O mundo, de acordo com o meu pai.

Existem dois tipos de pessoas no mundo: as a favor e as do contra. Este último tipo é sempre dominante, independentemente de tudo.

Em Vayorken a gente diverte-se imenso.

Ao contrário do que se poderia esperar, "we have always done it this way" e "you have to understand that" são duas expressões que, juntas, não são inibidoras de mudança mas facilitadoras. Pode é não ser a mudança desejada. Tudo de bom.