Are you Happy?


"- Are you happy?
- Don't ask me that."
in diálogo entre Marina e Jenny (TLW),
sim, sou obcecada! :)
Não é que me sinta assim, mas..não sei, apeteceu-me deixar isto aqui hoje. Gosto da resposta. :)
PS: A partir de hoje faço parte da Comissão de Finalistas. LOL :)

Ginásio Mental :)

1. Licenciatura
Três bruxas observam três relógios Swatch. Que bruxa observa que relógio?
(Three witches watch three Swatch watches. Which witch watches which Swatch watch?)

2. Mestrado
Três bruxas transexuais observam os botões de três relógios Swatch. Que bruxa transexual observa os botões de que relógio Swatch?
(Three switched witches watch three Swatch watch switches. Which switched witch watches which Swatch watch switch?)

3. Doutoramento
Três bruxas suecas transexuais observam os botões de três relógios Swatch suíços. Que bruxa sueca transexual observa que botão de que relógio Swatch suíço?
(Three switched Swedish witches watch three Swiss Swatch watch switches. Which switched Swedish witch watches which Swiss Swatch watch switch?)

Rendimento Máximo Garantido!

Vítor Constâncio ganhou 280 mil euros em 2005
"Os rendimentos do trabalho dependente de Vítor Constâncio totalizaram os 280 889,91 euros em 2005. Neste ano, só em aplicações financeiras e contas bancárias, o governador do Banco de Portugal declarou um montante global de 570 454 euros. Estes são alguns dos números que se podem retirar da declaração que o governador do banco central entregou no Tribunal Constitucional (TC), relativas aos anos de 2005 e 2004, e que o DN consultou.

Vítor Constâncio é ainda titular, nalguns casos a meias com a sua mulher, de uma habitação em Oeiras, 25% de um outro apartamento e de quatro prédios urbanos na zona de Estremoz. Em comparação com 2004, a situação económica do governador não se alterou significativamente: ganhou nessa altura 272 628,08 euros, não tendo modificado a carteira patrimonial ao nível imobiliário.

As instituições financeiras nas quais Vítor Constâncio mais confia são o Banco Português de Investimento, a Caixa Geral de Depósitos e o Banco Espírito Santo. Aparente adepto de não pôr todos os ovos no mesmo cesto, Constâncio colocou no BPI a fatia maior das suas poupanças: 192 180 euros num fundo de investimento; 50 256 euros num plano poupança-reforma (PPR); 204 454 euros numa aplicação de capitalização; 16 664 euros numa carteira de títulos e ainda 65 810 euros em produtos derivados de bolsa. Na CGD, o governador do Banco de Portugal tem um depósito a prazo de 119 222 euros e 86 680,9 euros num fundo de investimento. O BES é responsável pela gestão de um outro fundo de investimento mais modesto, no valor de 21 868 euros.

A consulta das declarações de rendimentos de 2005 - as relativas a 2006 só terão de ser depositadas no TC até ao mês de Maio - permitiu ainda concluir que os dois vice-governadores, José Martins de Matos e Pedro Duarte Neves, ganharam, respectivamente, 244 536 euros e 254 586 euros. Do ponto de vista de aplicações financeiras, Martins de Matos tinha investidos mais de 142 mil euros, no final de 2005, enquanto que o ex-presidente da Anacom foi mais ambicioso ao despender mais de 331 mil euros.

Entre os restantes três administradores verifica-se que José Silveira Godinho investiu quase tanto como Vítor Constâncio: 565 mil euros. Este ex-membro do conselho de administração do então Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa (BESCL) foi, no entanto, o que menos ganhou do ponto de vista salarial, tendo auferido "apenas" 224 634 euros em 2005.

Com um rendimento declarado de 226 081 euros, Manuel Sousa Sebastião chegou a investir mais de 386 mil euros nesse ano. Vítor Manuel Pessoa, apesar de ter sido entre os seis responsáveis do banco central com menos rendimentos (225 240 euros) e um dos com o menor volume de aplicações financeiras declaradas (218 225 euros), foi o que apresentou o mais vasto património imobiliário e automobilístico: com dez imóveis e seis viaturas.

Convém referir que Silveira Godinho, ex-ministro dos governos de Cavaco Silva, e Vítor Pessoa - os dois que recebem honorários mais baixos - são reformados, auferindo pensões de 109 379 euros e de 30 101 euros, respectivamente, as quais adicionam ao ordenado.

A fazer fé na declaração de 2005, Vítor Constâncio não tem dívidas, tendo liquidado no ano anterior o remanescente de um crédito imobiliário. Manuel Sebastião pediu um empréstimo ao BPI, mas este administrador apenas declara a situação líquida, pelo que o DN não contabilizou o dinheiro em falta. Sem dívidas ao banco está igualmente Silveira Godinho."
in DN de hoje
E ainda:
Mira Amaral - Depois da tradicional carreira entre ministérios e empresas públicas, o "sprint" final de 19 meses na direcção da CGD para uma reforma de 18.000 euros (mais 11.100 euros do que ganha o PR).
Celeste Cardona - Carreira meteórica: ex-deputada do PP, ex-ministra da justiça, e logo depois vogal do CA da CGD. 19.000 euros (mais 12.100 que o PR).
António de Sousa - Despedido da presidência da CGD ao mesmo tempo que Mira Amaral, acumulou a título de complementos de reforma por cargos desempenhados em empresas públicas ou equiparados, 615.000 euros que poderá receber na totalidade ou numa renda mensal. Desta totalidade, 237.300 euros correspondem aos 4 anos e meio que passou na CGD.
Oliveira Cruz - Ex-administrador da EDP e do Banco de Portugal, recebeu como complementos de reforma 716.000 euros.
Athaide Marques - Ex-presidente do ICEP, recebeu como complementos de reforma 201.000 euros.
Vítor Martins - Recém-nomeado presidente do CA da CGD, ganha 25.000 euros (mais 18.100 euros que o PR).
E não esqueçamos ainda o salário chorudo do nosso Director-Geral das Finanças, Paulo de Macedo, e de todas as reformas atribuídas a personalidades como Santana Lopes ou Manuel Alegre, entre muitos outros...E eu a pensar que éramos um bando de coitadinhos!....

Monogamia ou Monotonia? :)

"A bigamia consiste em ter uma mulher a mais. A monogamia é a mesma coisa", Oscar Wilde.
"O adultério é a democracia aplicada ao amor", Henry Mencken.
Num dos mais recentes episódios de TLW, uma das personagens afirmou a sua impossibilidade de entrar numa relação monogâmica. Depois deste episódio e da dicussão lançada em torno do livro "
The Myth of Monogamy: Fidelity and Infidelity in Animals and People", resolvi-me a pesquisar e reflectir sobre o tema e deixo hoje à vossa consideração as minhas conclusões.

Antes de mais, importa definir o conceito de monogamia. Esta "acontece quando um indivíduo só tem um único parceiro durante um determinado período de tempo e representa uma espécie de contrato social, uma relação de propriedade privada entre os agentes sociais, cada qual sendo proprietário da sexualidade do outro e a outorgação desse contrato é a fidelidade." (Wikipédia). Convém não confundir a não-monogamia com o adultério. O primeiro trata-se de uma "impossibilidade" psicológica (?) para manter apenas uma relação, já o segundo, bem..pode ser apenas uma rapidinha! :p

Ora, o que de extraordinário tem o livro referido (que infelizmente ainda não li mas que tem sido bastante comentado) é que vem contradizer a ideia enraízada de que homens e mulheres são naturalmente predispostos a viver juntos até que a morte os separe, afirmando que a monogamia nos humanos é uma combinação de muitas doses de preceitos religiosos (catolicismo qb), um bocado de pragmatismo económico (o direito à propriedade privada) e um toque de ingredientes sociais (reconhecimento da prole), sem esquecer, é claro, umas colheres de comodismo.

Segundo os autores (psicólogo David Barash e psiquiatra Judith Eve Lipton), a biologia mostra facilmente que vigora no comportamento humano um lado irracional e animal (a força dos instintos!), sendo que a sociedade cria mecanismos para minimizar ou reprimir esse nosso lado mais selvagem, de que a condenação do adultério pelos Mandamentos católicos é um claro exemplo. É realçado que a monogamia não é, afinal, instintiva em nós (de resto, até dava para desconfiar tendo em conta a constatação da enorme quantidade de práticas contrárias! :p ), mas sim um fruto das normas sociais que nos condicionam a padrões comportamentais, porventura, contrários à nossa natureza mais básica e primitiva.

E que melhor lugar para o comprovar senão na natureza? De acordo com Barash e Lipton, o facto de não ocorrer monogamia na Natureza pode ser explicado por uma simples contabilidade evolutiva - esperma é caro e óvulos são baratos -, ou seja, um macho normal de qualquer espécie produz milhares de espermatozóides todos os dias e está sempre à disposição (diz-se!) para novas relações sexuais, por outro lado, as fêmeas ovulam muito menos e, em caso de fecundação, têm que arcar com uma grande número de responsabilidades, normalmente designadas por "investimento parental". Com efeito, é este "investimento" que pode explicar o facto das fêmeas da maioria das espécies não ser tão propensa a aventuras extraconjugais, já que é toda uma equação de tempo, energia e risco que os pais biológicos depreendem para que a gestação e o nascimento das suas crias ocorra sem problemas graves.

Biologias à parte, existem sempre pessoas que se consideram extremamente morais e monogâmicas e que, no entanto, mantêm relações paralelas, quer puramente sexuais, quer emocionais, quer por simples desafio às regras, as sobejamente conhecidas monogamias de fachada. Toda uma cultura de aparências e de máscaras. Casais que se odeiam mas continuam juntos ou que se estimam de modo relativo mas vivem como estranhos. Mulheres que fingem uma monogamia mental, já que esse é o adorno obrigatório na nossa sociedade para qualquer mulher dita virtuosa. Homens que têm as suas inocentes escapadinhas, por vezes ignoradas outras toleradas, e que nenhum mal vêem nisso porque, afinal de contas, são machos, verdadeiros machos latinos (e dou por mim a pensar no Tony Soprano :p )! E pergunto-me de que adianta esta proclamada monogamia, quando há tantas poligamias mentais, emocionais, físicas?

Ao fim e ao cabo, vemos que a fidelidade (lembra-me sempre os cães), se não for espontânea, morre (e muitos autores defendem que espontânea, só mesmo no ínicio, depois nada mais é senão um acto de vontade). E isso depende, essencialmente, daquilo que nenhuma explicação científica é apta o suficiente para desvendar, daquilo que é a componente fundamental de toda a relação humana - o amor. Na realidade, é por causa deste factor que se encontra quem defenda que a emocionalidade e racionalidade intrínsecas ao homo sapiens o coloca na escolha (e não obrigatoriedade!) da monogamia, isto é, salientam a diferença entre viver o mito do relacionamento monogâmico por imposição cultural e o de viver uma relação que sustenta a monogamia como uma opção consciente compensadora, que traduz para o outro um sinal de disponibilidade, exclusividade e principalmente de empenho na relação.

Além destas duas correntes alternativas, encontrei ainda um conceito totalmente desconhecido por mim até então - o poliamor. Mais do que o "simples" conceito de poliamor, trata-se de, ter mais do que uma relação em simultâneo, sendo que isso é consentido por todos os intervenientes. No fundo, atrevo-me a dizer que é uma questão de sinceridade e de genuidade para com o Outro, levada ao limite. Na minha opinião, é um estado de espírito, quase uma filosofia de vida, mas que pode ser utópica e cruel se não estiverem bem cimentados esses princípios da não-propriedade. Até porque a liberdade consciente exige muito mais fibra e responsabilidade do que a conformidade instintiva. Para quem quiser saber mais, podem começar por aqui.

Não quero com tudo isto dizer que a monogamia é má e a poligamia é boa, atenção! Hoje, o meu papel é o de demonstrar que não existe nada dito normal (já viram o filme Kinsey?) porque nós seres humanos somos bichos demasiado complexo e que há mais modelos do que aqueles em que crescemos e nos habituamos a pensar como o único possível. De qualquer modo, devo acrescentar que, embora não me imagine noutra relação que não a monogâmica, não condeno os poliamores e afins (anda na moda os amigos coloridos e os swings), desde que se tenha em conta respeito por todas as partes envolvidas.

Independentemente de tudo isto, também eu acredito que, no futuro, a monogamia será construída de forma mais pensada (fruto de uma sociedade mais consciente da sua sexualidade) e que as relações são o que as pessoas fazem delas e não o que nos educam e condicionam para ser...
Sem pretender ofender ninguém, aqui fica a caricatura "à la Gato Fedorento" da típica reacção do luso exemplar à traição conjugal:
- Achas que estarias a trair o teu sentimento com a tua esposa, ao estares com outra mulher?
- Não!!!!
- E se ela estivesse com outro, estaria a trair o sentimento por ti?
- Sim!!!!

Desculpa-nos

"Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada", Edmund Burke.

Confesso que não me lembrava. Pior, tenho a certeza de que muitos outros não se lembraram. Fez ontem um ano que se cometeu uma barbárie em Portugal - a morte de Gisberta.
A justiça de um País revela-se em casos limite. Acho que a nossa, uma vez mais, falhou. Banalizou-se o caso. Não se lhe deu a devida importância. Houve uma autêntica farsa judicial, política, social. Acentuou-se a palavra "delinquência infantil" mas pouco se ouviu falar de homofobia. Somente da transexualidade de Gisberta, como se isso a definisse, como se isso sequer importasse! (Tivesse sido um cidadão português com os impostos em dia, o desfecho do caso teria sido bem diferente, mas, temos de comprender, travesti e brasileira, o que é que nós temos que ver com isso?). Morreu uma pessoa. Lamentavelmente, quase parecia que falavam de uma pequena brincadeira que acabou mal, uma coisa desculpável...Sociedade hipócrita! Shame on us.
Deixo-vos com o texto de Fernanda Câncio postado no seu blog e publicado no DN de 6a e...quase me apetece chorar, de indignação, de pena, da nossa enorme pequenez e desumanidade...



"Querida gi,
Pronto. Passou um ano. Já não me lembro bem das primeiras notícias. Confusas. Havia um homem num poço num prédio abandonado. Um travesti. Um sem abrigo. Um toxicodependente. Um brasileiro. Eras um homem, primeiro, com nome de homem: Gisberto Salce Júnior, 46 anos, sinais de espancamento, um bando de miúdos de instituições do Porto como suspeitos, tinha sido um deles a contar a uma professora uma parte da história, o onde e quem e o quê que levou a polícia e os bombeiros ao corpo seminu a boiar no fosso de dez metros.

Depois eras prostituta e ex "rainha da noite transgender", tinhas HIV e hepatite C, foras afinal uma mulher bonita, um sorriso rasgado nos vestidos de star e na cabeleira longa, loira, ruiva, morena. Vieram as fotografias, devagar, só nas revistas e nos jornais, poucas, muito poucas. Nunca na TV. Lia-se um jornal e eras homem, lia-se o mesmo jornal e eras mulher. Gisberto, Gisberta. Ouvia-se um responsável de uma das instituições onde viviam os rapazes que te espancaram e eras "não propriamente um exemplo". Talvez mesmo um agressor, talvez mesmo um perigo, se não real pelo menos representado, de "pedofilia", contra o qual os miúdos -- sabíamos agora que adolescentes entre os 11 e os 16 -- "tinham decidido fazer justiça pelas próprias mãos".

Veio a autópsia e a descrição das queimaduras, dos indícios de violação anal com pedaços de madeira, do teu estado de sida terminal (tinhas fugido de um centro de tratamento onde a Abraço te tinha internado), do facto de teres morrido afogada e "não em consequência das agressões" que te foram inflingidas.

Trato-te no feminino, Gisberta, porque foi mulher que escolheste ser e foi, parece que terá ficado mais ou menos provado no julgamento à porta fechada dos miúdos, por teres querido ser mulher tendo nascido homem, por seres "um homem com mamas", que foste objecto da curiosidade e depois da violência do bando. E trato-te por querida, Gi, porque me apetece. Desde o início, quando te imaginei só e derrubada, dias e noites de dor e medo e incredulidade à espera que eles parassem com aquilo, à espera que um deles chamasse ajuda, à espera que te vissem - que te vissem - e percebessem que não podias acabar assim, aos pontapés de meninos de rua de um país estrangeiro, tu que tinhas vindo de São Paulo para a Europa para cumprir os teus sonhos, tu que tinhas vivido em Paris e encantado plateias e arrebatado corações, tu que eras tu, única e irrepetível.

Desculpa, Gi. Não ter havido um milagre. Ou pelo menos uma pietá para te descer da cruz e te segurar na cabeça. Alguém a gritar justiça por ti à porta do tribunal, quando eles saíram e espetaram o dedo, de tão arrependidos. Desculpa tanta desculpa."

Coisas do Acaso

"O acaso tem seus sortilégios, a necessidade não. Para que um amor seja inesquecível, é preciso que os acasos se encontrem nele desde o primeiro instante como os pássaros nos ombros de são Francisco de Assis."
"O ser humano, guiado pelo sentido da beleza, transpõe o acontecimento fortuito e faz dele um tema que, em seguida, inscreverá na partitura da sua vida."
"Não há, portanto, razão nenhuma para censurar aos romances o seu fascínio pelos misteriosos cruzamentos dos acasos (...), mas há boas razões para censurar o homem por ser cego a esses acasos na sua vida quotidiana e assim privar a vida da sua dimensão de beleza."

A Sensualidade no Pintar

Pink Wallpaper, 2000
Black Rose, 2000
















Knotty but Nice, 2005


Hoje, qual Bette Porter (The L Word), deixo-vos com pinturas da egipcía Ghada Amer, que nada me importaria de ter no meu quarto/sala. A artista aborda na maioria dos seus trabalhos a sexualidade feminina, logo, é natural que, por si só, estes sejam dignos de ser considerados belos e, daí, que não me ocorreu mais nada senão deixá-los à vossa atenção para que possam ser devidamente apreciados.
Picasso disse que "em arte, procurar não significa nada, o que importa é encontrar". Deleitem-se, então hoje, não na procura mas no encontro com novas significâncias e vejam para além do visível, digam para além do dizível mas, sobretudo, sintam para além do sensível... A arte é só o pretexto... :p

Vale a pena pensar nisto...


"Demora a sabermos que estamos aqui. Que devemos contentar-nos. Desfrutar. Usufruir. Passamos a vida a fazer planos. Somos bicho diferente dos animais. Vivemos em antecipação. A fazer perguntas. Vivemos em torno do depois."
Rodrigo Guedes de Carvalho, in "A Casa Quieta"
"Fazer isto, depois aquilo. A suburbana ideia de que há um tempo para tudo e que nos devemos resumir. Está na altura de, está na altura de. Como se cada passo fosse fundamental para o seguinte. Como se não pudesse haver outro caminho".
idem

Demissão do Primo Alberto


Alberto João Jardim demitiu-se (porque raio é que não foi antes o Ministro da Saúde??) do cargo de Presidente do Governo Regional da Madeira como forma de protesto à Lei das Finanças Regionais defendida pelo Eng. Sócrates e promulgada por Cavaco Silva.
Segundo o próprio, trata-se de uma questão de respeito e credibilidade perante o povo que o elegeu, já que essa lei põe em causa o cumprimento do programa eleitoral apresentado. Além do mais, pretende-se com isso dar uma nota negativa a todo o governo e, com a recandidatura e provável vitória de Jardim, provar a sua legitimidade na Presidência do Governo a toda a "corja" política de Lisboa.
Sinceramente, gosto muito da personagem. Da irreverência, do contacto com o povo, da não submissão a nada nem ninguém senão àqueles da sua terra, de não ser um hipócrita ou falso moralista, de ter como prioridade a Madeira e nada mais. Sobretudo, por fugir, sem medo, ao politicamente correcto. É do tipo de pessoa, muito sui generis, que se ama ou se odeia. O verdadeiro rosto da Madeira!
E, primo Alberto, tens o apoio das pessoas cá de casa!

Volver

Pelo facto de no Sábado à tarde a SIC ter transmitido o filme "Mulher por cima", com Penélope Cruz, e depois de ter lido óptimas reviews acerca de, fiquei com uma enorme vontade de ver o mais recente filme de Pedro Almodóvar - Volver. Hoje foi o dia.

Nunca fui muito conhecedora dos filmes dele (acho que só vi o "Fala com Ela") e, apesar de lhe reconhecer muito profissionalismo, confesso que também nunca prestei grande atenção ao trabalho de Penélope Cruz. Pois bem, tudo mudou! :)

Achei que o filme estava excelente, verdadeiramente digno merecedor das óptimas críticas que tem recebido! E quanto a Penélope...UAU! :) Que interpretação tão magnífica (e, já agora, que olhos, que beleza, a mais bela iguaria espanhola!), no papel de Raimunda! Não é à toa que está nomeada para o Oscar de Melhor Actriz Principal e...torço por ela! :)

Volver não é propriamente uma comédia surrealista, embora às vezes o possa parecer (um "fantasma" tão real que quer pintar o cabelo? Uma "russa" que se peida? Que se esconde debaixo da cama? :D ). De surreal, diria que tem essa coexistência tão pacífica entre vida e morte, vista com uma admirável naturalidade (a Raimunda a limpar o sangue na cozinha, a pôr o corpo na arca e a enterrá-lo), capaz de criar situações que são engraçadas mas também cheias de uma profunda e genuína emotividade.

A história do filme gira à volta de, essencialmente, três gerações de mulheres: Raimunda, casada com um "desempregado que bebe demais" (uma maneira mais simpática de lhe chamar toda outra enormidade de nomes como...porco, nojento, vergonhoso!), e com uma filha adolescente chamada Paula; a sua irmã Sole, que vive sozinha e tem um salão de cabeleireiro ilegal; e a mãe de ambas, Irene, que é suposto ter morrido num incêndio juntamente com o marido, e que aparece para tratar dos seus assuntos por resolver com Raimunda e uma vizinha, Agustina, ou melhor, com o passado.

Na minha óptica, trata sobretudo do amor dos laços maternais, tendo como pano de fundo, o problema dos pais que abusam das filhas. Quase chorei quando Irene conta à filha qua já sabe o que aconteceu!...Faz-me confusão. Mostra o quanto somos animais, primitivos na nossa busca do prazer, não importa quem. Meu Deus, como é que é possível??! E além disto, supor que há casos de tolerância ou até mesmo de cumplicidade das mães! Repugna-me. Revolta-me. Sei lá!

E, curiosamente ou talvez não (o nosso cérebro tem desígnios insondáveis!), aquando dessa "confissão" entre mãe e filha, vieram-me à memória três coisas: a primeira, uma tomada de consciência que me assusta e aflige, a de que muitas vezes a realidade transcende a ficção; a segunda, um qualquer excerto de "A Casa Quieta" (de Rodrigo Guedes de Carvalho), em que a determinada altura é questionado duma forma provocatória como é que se pode transmitir educação sexual a uma menina abusada pelo pai; finalmente, uma citação de Margarida Rebelo Pinto - "todas as famílias são normais até as conhecermos bem".

Posto isto, resta-me recomendar, convicta e vivamente, este filme. Vale realmente a pena! Deixo aqui um "cheirinho", em que Penélope "canta" (na realidade é cantada por Estrella Morente) Volver...

Pensamentos do Dia

"A felicidade não está no que acontece mas no que acontece em nós desse acontecer."
Vergílio Ferreira

"Os homens são brutos e insensíveis. Matam mais criancinhas, portam-se pior à mesa, cospem e coçam-se mais. Os homems - e sobretudo os homens que gostam de mulheres - são menos inteligente, menos delicados e menos civilizados que as mulheres. A única coisa que têm a favor deles, à parte certas características discutíveis, como serem menos histéricos, é as mulheres gostarem deles. Por que é que a mulheres gostam dos homens? Como lésbica que sou nunca entendi."
Miguel Esteves Cardoso
PS: Terminei agorinha de ler "Morder-te o coração". Adorei, do mesmo modo que gosto de ler os livros da Margarida Rebelo Pinto, chamem-lhe ou não literatura light - porque me tocam o coração, me fazem sentir muito humana. É um livro triste, mas é um livro belo. Ou, dito da melhor maneira e tal como vem na capa: "Este (pequeno) livro é precioso (e raro) e deve ser manuseado com cuidado: contém emoções." (José Eduardo Agualusa).

Devaneios de um dia de chuva

Podemos convencermo-nos de tudo. Basta que acreditemos muito. Pensava que já me eras indiferente. Preferia tanto que sim. Ontem, de uma maneira muito cruel, mostraste-me que não.
Falaste-me de intimidades reveladas, partilha de histórias. Relembraste aquela noite de Carnaval, a primeira de muitas e a que se tornou a mais inesquecível de todas, aquela em que no fim, te beijei a boca, a ti perfeito desconhecido. Perguntaste se eu me lembrava. Mas como posso esquecer? Depois fizeste questão de me mostrar que te lembravas até da primeira correcção que te fiz (eu, e a minha mania de tentar corrigir os outros!). Diz-se "pulverizar", não "pruvizar".

Ontem disseste que, apesar de tudo o que aconteceu, nunca tinhas deixado de me tratar com amor e carinho. Disseste que na altura fizeste tudo para que eu me sentisse amada e desejada. Disseste que histórias como a nossa não acabam assim, nunca acabam. Tal como nos momentos do prazer, também ontem soubeste tocar nos pontos certos. E eu fiquei a lembrar-me de tudo.
Da noite em que te seduzi com o meu curto vestido preto. Da outra, mais ousada e mais certa, em que foste para casa com a camisa suja das minhas pinturas de índia. Lembrei quando dizias que tardava e tinhas de ir, mas depois te alongavas nas despedidas e era eu que tinha de ir. De quando saías a medo do quarto, apesar de já toda a gente saber que lá dormias. De me dizeres todos os dias que eu estava linda. De me sentir linda. Da minha melhor amiga me ter dito naquela manhã que eu estava linda...
Ou de quando me apalpavas, qual garoto da escola, e desatavas a correr e a rir. Lembro-me de andar feita tonta à tua procura porque a sessão de cinema estava quase a começar e, encontrei-te, completamente descansado e distraído, a jogar um qualquer jogo de tiros com um pequenote que apareceu. Afinal o sr. engenheiro era só um miúdo grande!
Depois lembrei-me de quando me agarravas por trás e me sussuravas ao ouvido convites indiscretos. De como pareces tão respeitável mas dizes obscenidades na cama. De como és homem o suficiente para te permitires chorar no meu colo. E lembrei da última vez, não a mais recente, mas a última, em que só me abraçaste com força e assim adormecemos, eu e tu, na certeza de que naquele abraço estava todo o nosso amor.
Eras o meu plano A. O meu ideal. Aquele de quem toda a família iria gostar. Demasiado perfeito para seres perfeito. Esqueces-te de que sou uma pessoa estranha, incomum. Uma estrangeira na minha pele. Uma exilada de mim mesma (como diz a Patrícia Reis).
Conhecemo-nos mal, sabes? Nunca me soubeste toda. Não sabes que há joguinhos que não tolero...E já não tens o meu coração. Mesmo assim, fora esse teu jeito egoísta de amar, tenho de ti uma boa imagem. Digo que és uma boa pessoa.
Estava convencida de que eras agora o nada que já foi tudo. Que eras passado sem futuro. Que já não eras exaltação, mas serenidade. Já passou tanto tempo! Devias já ser esse ponto final e que curiosamente é o nome que me aparece quando estás no msn. És o meu fantasma e ontem abalaste-me o mundo. Não te percebo. Nunca perceberei homens como tu. Mas gostava, gostava mesmo, de saber o que se passa nessa alma. Mas para isso, era preciso que a tivesses...
Não te quero esquecer. Quero ser velhinha e redescobrir um dia o teu nome com carinho. Até lá, vai à tua vida e tenta ser feliz. Farei o mesmo.

Amar, mas amar mesmo...

Sou fascinada pelos escritos do Miguel Esteves Cardoso (MEC).
Tendo em conta que o Dia de ontem trata-se para muitos de nada mais do que uma obrigação social (lá vou eu ter de ir jantar fora e comprar um presente!), deixo aqui neste espaço a questão que se impõe - "Desde quando é preciso dia para amar?" e sugiro a leitura deste magnífico texto do MEC: "Elogio ao Amor", que transcrevo de seguida, para vos deixar a pensar, de tão verdade que é...
"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A"vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também...".
E o que é que me apetecia agora? Ver o "The Notebook" ou o "Pretty Woman" ou qualquer outra grande história de amor que ainda me faça acreditar... :)

Morder-te...;P

Adoro livros. O seu cheiro quando novos. A sua cor quando velhos. Poder simplesmente olhar para eles. Poder sonhá-los. Acabar a chorar. Acabar a pensar. Love it! Mesmo assim tenho pena de não (poder) ler mais...
Se não me calhar o Euromilhões para poder dar aso à minha sede de livros, não me importava mesmo nada de ir trabalhar para uma livraria ou, quem sabe, abrir uma! :)
Anyway, só para informar que hoje (sim, só hoje) descobri mais um livro sobre Salazar que me pareceu extremamente interessante: "Máscaras de Salazar" de Fernando Dacosta. Ok, agora é que parece mesmo que estou a fazer campanha para a vitória de Salazar n' "Os Grandes Portugueses" da RTP (mas não estou!) ! :P
Deixo de seguida uma sinopse:
"Máscaras de Salazar é a recriação de uma crónica pessoal a partir de testemunhos, de diálogos, de declarações, de confidências, de segredos que Fernando Dacosta teve com vários protagonistas (e opositores) do Estado Novo, inclusive Salazar. Para julgar é preciso compreender. Daí o contributo deste livro, memória de gerações de pessoas convictas de um desígnio que foi morrendo com elas. É urgente reter a palavra, o testemunho com que influenciaram para sempre o nosso presente e o nosso futuro.
Através de dezenas de depoimentos inéditos, incluindo os do próprio Salazar e de D. Maria, a governanta-virgem, a revelação de dados até agora completamente desconhecidos:
*O ex-presidente do Conselho não caiu de nenhuma cadeira.
*Conservou, escondidas, duas cápsulas de cianeto fornecidas por Hitler.
*A Pide matou Delgado sem o seu conhecimento.
*Foi ele que sugeriu a fuga de Cunhal da prisão de Caxias.
*As razões que levaram a Santa Sé a considerá-lo a «encarnação viva do demónio»."
Saliento daqui uma mensagem importante que resume tanto esta esta fixação por Salazar como uma lição de vida e, que às vezes ainda teimo (como tanta gente, infelizmente) em esquecer:
Para julgar é preciso compreender.
Infelizmente não o comprei (o que será de uma gestora se não souber sequer gerir o seu dinheiro? :) ) mas, já que não recebi nada no Dia dos Namorados (ou dos Encalhados, depende da perspectiva :D ), resolvi mimar-me a mim mesma, trazendo um livro que me despertou a atenção pelo título e que, espero, se venha a afigurar uma boa escolha: "Morder-te o Coração", de Patrícia Reis.
Que todos se deixem morder...

Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinicius de Moraes

Match Point

"The man who said "I'd rather be lucky than good" saw deeply into life. People are afraid to face how great a part of life is dependent on luck. It's scary to think so much is out of one's control. There are moments in a match when the ball hits the top of the net, and for a split second, it can either go forward or fall back. With a litte luck, it goes forward, and you win. Or maybe it doesn't, and you lose."

Chris Wilton

Apesar de já ser um filme de 2005 só há dias vi o "Match Point". Gostei muitíssimo, mas obviamente (atrevo-me a dizer) não gostei do fim. Embora muito real, não consigo ficar indiferente a injustiças tamanhas...E acho realmente irónico que Woody Allen tenha colocado o investigador do crime a sonhar com a realidade dos factos, mas sem a possibilidade de os provar. Ou que Chris não consiga engravidar a mulher (só o consegue após a morte da amante) mas consiga engravidar a amante. De génio! Sarcasticamente genial! :)

Mas gostei sobretudo por realçar a importância da sorte, qual bola de ténis a tocar no cimo da rede e que pode cair para o nosso campo ou para o campo adversário. Não o entendo como um filme "prêt-a-porter" apesar de ter um visionamento fácil e agradável. Embora à primeira vista possa parecer uma combinação de "Closer - Perto Demais" com "O Talentoso Mr. Ripley", o filme vai mais além já que trata de coisas muito mais essenciais e com as quais, numa ou noutra altura, sempre nos confrontamos. Fala de sucumbir às tentações, de correr riscos, do hábito e da segurança de um casamento com tudo o que de bom e de mau isso comporta, de mentira, de traição. Temas muito humanos, que são quase um contraste entre o sentir e o pensar, e que demonstram bem a força dos nossos instintos mais animais...5 estrelas! Um filme de que me vou recordar certamente variadas vezes.

E valeu a pena também pelo facto de eu finalmente ter descoberto porque é que a maioria dos homens (e é claro, algumas mulheres) têm aquele fascínio, que vai além do seu desempenho como actriz, pela Scarlett Johansson...:) I got it! :) Já a tinha visto em "Lost in Translation", mas depois de a ver no papel de femme-fatale...uau, lindíssima! :) E, como muito bem repara Chris, mas que lábios! :) A par dos da Monica Belluci e da Angelina Jolie, acho eu. Aliás não deve ter sido à toa que Woody a colocou como protagonista do seu novíssimo filme Scoop (temos musa?). Tirando isso saliento ainda a interpretação de Jonathan Meyers, que foi muito convincente na minha humilde opinião de leiga do cinema. :) Gostei.

Para quem não conhece o filme (duvido), aqui fica uma pequena sinopse com base naquilo que está no site oficial:
Antigo tenista profissional, Chris Wilton (Jonathan Rhys Meyers) estava habituado ao pouco sucesso da sua vida. Mas quando se torna amigo de Tom Hewett (Matthew Goode) e casa com a irmã deste , Chloe (Emily Mortimer), estão abertas as portas para um tipo de dinheiro e sucesso com os quais Chris apenas podia sonhar. Chris poderia assentar nessa felicidade, mas é atormentado pela atracção à impossivelmente linda e sensual noiva de Tom, Nola (Scarlett Johansson). Essa atracção transforma-se numa obsessão que força Chris a fazer uma escolha crítica. Agora tudo na sua vida pode ruir se Chris fracassar de novo, isto é, se tiver ou não sorte...
Escrito e dirigido pelo inigualável Woody Allen, “Match Point” é um drama, que se passa em Londres(saudadinhas!!), sobre ambição e obsessão, a sedução da riqueza e a frequente discordante relação entre o amor e a paixão sexual. Talvez mais importante até, a história revela o grande papel que a sorte tem no nosso dia-a-dia, refutando assim a reconfortante assumpção de que a maior parte da nossa vida está sob nosso controlo e depende de nós.
AMOR. LUXÚRIA. (Até onde seria capaz de ir?)
TUDO. NADA. (Seria capaz de arriscar tudo?)
VERDADE. MENTIRA. (Não existem pequenos segredos)


Não é o melhor dos filmes para se ver hoje, Dia dos Namorados, :) mas é um filme que recomendo. Enjoy...

O que é a Beleza, afinal?



Há uns dias atrás li um interessante e, na minha humilde opinião, extremamente inteligente, artigo sobre a beleza. Não sei se foi uma conspiração do universo ou não :), mas pouco tempo depois mandaram-me um mail com o vídeo da Dove (excelente trabalho, como sempre, quer da Dove quer da Ogilvy) e ontem à noite ao ver a Oprah descobri uma série que acentava como uma luva a este tema: Ugly Betty.

Baseado no formato colombiano de sucesso"Yo Soy Betty La Fea", o enredo desta série desenrola-se no superficial e agressivo mundo da high-fashion e conta a história de Betty Suarez, uma rapariga doce, inteligente, determinada e muito empenhada, mas nem por isso sofisticada ou commumente bonita, que consegue arranjar trabalho numa conceituada revista de moda.

Embora à primeira vista, se possam tentar encontrar semelhanças com "O Diabo Veste Prada" (que também gostei muito), acho que a série vai muito além disso, nem que seja pelo simples facto de ser uma série, o que comporta muitas mais oportunidades de explorar os temas/tempo.

Produzida pela lindíssima Salma Hayek (Frida, Bandidas) e com America Ferrera (a protagonista) e Eric Mabius (so cute!, da fantástica L Word) nos principais papéis, trata-se de uma típica história de "beleza interior", com muitos risos e algumas lágrimas, mas que é uma verdadeira delícia para quem é uma eterna piegas como eu! :)

Como Vender Roupa Interior Masculina

Isto é o que eu chamo de publicidade inteligente! :)
Enjoy!

The Impossible Just Takes a Little Longer

Eu bem sei que isto não interessa a ninguém mas, depois de três anos de tentativa (sim, mea burrice, mea maxima burrice!) estou....tãaaaaaaaaaaaao FELIZ!!!
PASSEI A MATEMÁTICA!!!!
É verdade que a nota não foi nada de especial (10), mas tendo em conta que dos 123 alunos inscritos para exame (em frequência talvez tenham passado uns 10) só 6 passaram no exame, sinto-me particularmente bem-disposta!
(Impressionante como um simples número nos pode deixar tão felizes! Meu Deus, pareço uma criança! lol)**

Os Amores de Salazar

Não querendo parecer nenhuma pseudo-intelectual-com-aspirações-a-iluminada, :) não podia deixar de apresentar aqui uma espécie de review ao livro que terminei ontem de ler - "Os Amores de Salazar", de Felícia Cabrita, reconhecida jornalista de investigação que denunciou o escândalo Ballet Rose e Casa Pia.
Posso dizer que foi uma agradável surpresa! Porque ao contrário do que eu julgava, e daquela que foi a imagem forjada pelo aparelho de propaganda do regime, António de Oliveira Salazar não era propriamente o homem austero, virtuoso, casto e "casado com a Pátria", que gostava de parecer. Contrariamente, teve várias mulheres (cerca de uma dezena) na sua vida e relações bem carnais! Glorificou o lar e a família mas nunca se pautou por esses príncipios ("faz o que eu digo, não faças o que eu faço"). Afinal, o nosso ditador também era humano...
Salazar surge como uma personalidade complexa, multifacetada, contraditória até. Como descrito no prefácio de Diogo Freitas do Amaral, vejamos: Ele foi "o universitário político, o católico altivo perante a Igreja, o monárquico que consolida a República, o apreciador de multidões que não as excita nem se excita com elas, o militarista que nunca veste uma farda, o europeu que não gosta de viajar pela Europa, o defensor intransigente do Ultramar português que não conhece uma única província ultramarina, o Chefe todo-poderoso que vive apenas do seu magro vencimento e, ainda assim, todos os meses dá o que sobra em esmolas a instituições de caridade e sai do Governo tão pobre como entrou, enfim, o Ditador que, sem qualquer guarda pretoriana, triunfa de todas as tentativas de assassinato, golpe militar ou anarquismo terrosrista - e, ao fim de 40 anos de poder ininterrupto, morre tranquilamente na sua cama, sem que à noticía do seu falecimento se siga em nenhum ponto do país qualquer manifestação de júbilo por parte dos seus mais ferozes inimigos".
Essas características complexas englobam igualmente a sua vida privada: tem famíla mas raramente os vê ou com eles celebra festividades; tem muitos poucos amigos, mas mantém-nos à distância para não ser influenciado; católico, terá perdido a fé a partir da meia idade; convidado para todas as grandes festas dos magnatas do Regime, não vai a nenhuma; podendo passar férias em qualquer palácio nacional, descansa em Santa Comba ou no Forte de Santo António no Estoril...
Em relação a esses amores, surpreende-me encontrar um Salazar "Pinga-amor", mas com romances longos (e não encontros passageiros!), onde há diálogo intelectual mas também afecto, carinho, amizade. Certo é que as mulheres eram devotas a Salazar e ele aproveitou-se disso, em algumas situações, para as tornar suas informadoras e mensageiras das suas ideias. Não obstante, findo os amores, nunca as abandonou de todo e nunca as esqueceu.
Confesso que fiquei com uma renovada visão desse figura incontornável da nossa História. Não querendo soar a salazarista, tudo nele, me parece agora diferente, singular, sui generis. Ele foi o "bom tirano", o paternalista, e é também por isso não me espanta tanto, quanto a alguns, o facto dele ter sido nomeado no programa "Os Grandes Portugueses". É impossível esquecer todas as atrocidades cometidas durante a sua ditadura mas, numa época de diluição de valores, de descredibilidade das instituições, de falência económica e social, como a que se vive hoje, a memória de tempos ora melhores surge facilmente. Até porque Salazar conseguiu equilibrar as contas públicas e fez um brilhante trabalho ao alhear o País, com inteligência e ousadia, à Segunda Guerra Mundial.
Não sou de todo, repito, uma defensora de Salazar, mas acho que só um génio (a minha "pancada de estimação" pela genialidade dos ditadores e de Alberto João Jardim, ditador com estilo próprio! :D ) conseguiria subir do mais baixo patamar até ao de Presidente do Conselho e deter-se no poder por tão longo período...
Sabia que:
*chefe político supremo do País, Salazar nunca aceitou ser Presidente da República, arriscando ter alguém acima dele com poder para o demitir?
*Ao contrário de outros ditadores, Salazar nunca aceitou aparecer fardado?
*Acreditava na indissolubilidade do casamento, mas insiste até ao fim para que na Concordata de 1940 se mantenha a possibilidade de divórcio?
*Acolhe na sua residência oficial de S. Bento duas jovens que trata como afilhadas ou protegidas?
*Teve um caso com uma astróloga de quem não descurava a leitura dos astros aquando da tomada de importantes decisões?
*Salazar terminou o curso de seminarista mas desistiu de ser padre porque, a bem da verdade, se apaixonou?
* Terminou o Seminário com 16 valores e a licenciatura em Direito com 19 valores?
*Salazar envolveu-se com uma mulher casada?
* Apaixonou-se por uma jornalista francesa a quem não olhou a despesas para cobrir de mimos?
* Tinha a alcunha, entre as mulheres, de "Troca-Tintas"?
Ah pois é! :)

A César o que é de César*

Hoje senti-me particulrmente indignada, revoltada e enojada com a Igreja Católica no geral (e não, nada tem a ver com posts anteriores!) e com a minha "querida" Paróquia em particular. Hoje na missa (sim, a minha vida é todo um paradoxo!) questionaram-me, com um inocente à-vontade, se eu já tinha "o dvd do aborto"!!? O mesmo dvd, alvo de notícia da SIC à uns dias (por andar a ser distribuído numa escola, A MENORES), dobrado em português do Brasil e que mostra como se faz um aborto, de uma maneira muito fria e cruel. Aliás, acho que, não sendo certamente este o título, é de resto muito parecido com "O Silêncio dos Inocentes"...E anda a ser distribuído às catequistas da Paróquia e outros interessados! Shame on you!
Além do mais, o cântico final de hoje foi tão "bem escolhido" que me reservei ao direito de não o cantar, já que envolvia frases como "Deixai vir a mim as criancinhas" e "Não é da vontade do Pai que se perca um só dos pequeninos"... Será que só eu é que acho isto uma afronta, uma maneira nojenta de pressionar as pessoas a votarem Não??
Não ignoro o papel que a Igreja tem na nossa sociedade mas desilude-me pensar que muita gente poderá votar Não, simplesmente por "obediência" ao 5º Mandamento...Enfim.
José Pacheco Pereira escreveu a este propósito um interessante artigo na "Sábado" desta semana (a "Sábado" traz como capa "O que Você Ainda Não Sabe" com a imagem de um feto; a "Visão" traz como capa "Mortes Clandestinas" e tem como imagem de fundo mulheres que morreram; resta-me perguntar: objectividade? imparcialidade? hoje quer a revista do sim ou a do não?), intitulado "Uma última guerra de religião", do qual, dada a sua pertinência, me permito reproduzir um excerto:

"Quando se olha para os defensores do "sim" e do "não", arrumados em cada metade do seu palco no Prós e Contras, percebe-se que a fractura que os divide é essencialmente religiosa. Significa isto que não há "sins" católicos e "nãos" agnósticos? Certamente que não, mas são excepções. (...) há no "não" uma rede comum por trás, um fio que os entrelaça, mais evidente do que nos do "sim", mais heteróclitos e diferenciados entre si, e esse fio é a Igreja vivida, uma religião que não é apenas contemplativa, mas exercida como dedicação a causas. Eles são militantes, soldados, que marcham ao som de rebate de um "sim" que trará mais autodeterminação individual à sociedade, menos trasnposição de uma visão religiosa para as leis civis, mais laicidade à vida comum. É natural que vejam nisso um perigo, um cerco aos seus valores, uma perda de influência real da Igreja, do seu mundo. (...) Há algum problema no facto de a Igreja, mais pelos seus leigos do que pelos seus padres, estar envolvida no "não"? Nenhum, bem pelo contrário. A Igreja é uma realidade profundamente mergulhada na vida portuguesa, não apenas nos adros das igrejas do Minho rural, mas também no topo da vida política, intelectual, económica , financeira, profissional, académica. É isso que muitas vezes esquecem alguns dos partidários do "sim", que conhecem mal o seu País e acham que a Igreja é o cura retrógrado e libidinoso da propaganda republicana. Não é, é uma das forças mais vitais da sociedade portuguesa, com enorme influência e capacidade de organização, menos dependente do Estado que os partidos, mais envolvida na "sociedade civil" que muitos dos movimentos do "sim". Se o "não" ganhar deve-se à Igreja e aos seus soldados, se o "sim" ganhar será porque conseguiu que muita gente vote pela razão e não pela fé e pela pertença. Não custa perceber que será mais fácil ganhar o "não" do que o "sim", mas o resultado será um teste sobre o modo como os portugueses pretendem moldar o seu futuro".

É restritivo pôr de um lado a Igreja e do outro...o resto, mas, infelizmente, parece-me que é mesmo assim.
Já votei. Como já o tinha dito, votei Não. Mas em consciência e depois de ponderada (e demorada) reflexão e não por motivos menos válidos. Gostaria que assim sucedesse com todos...
Prometo que este é mesmo o último post sobre o tópico do referendo ao aborto! Quer ganhe o sim quer o não, é benéfico e curioso salientar que, para o fim, ambas as campanhas se aproximaram mais e o debate tornou-se mais sereno. Até porque, afinal de contas, o mundo não é a preto e branco e há coisas na vida que não se podem decidir por um claro "sim" ou por um rotundo "não". Daí que todas as línguas contemplem o "talvez", o "mas", o "depende"...
Não gostei da "birra" do Eng. Sócrates: ou ganha o "sim" ou não se muda nada. E gostei das alternativas à pena de prisão apresentadas pelo "não", embora de certo modo hipócritas (é crime mas não tem punição, como no sketch dos Gato Fedorento?).
Não vou fazer comentários pós-referendo. Resta-me esperar que não seja a Abstenção a ganhar e que alguma coisa mude de facto...
* E a Deus o que é de Deus :)

Pedras no Meu Caminho

“Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “não”.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no meu caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo…”
Fernando Pessoa

Ciência VS Religião

"Se algo em mim pode ser chamado religioso, é a ilimitada admiração pela estrutura do mundo, tanto quanto a ciência a pode revelar."
(A. Einstein)
"Podemos amar no escuro, sim, podemos amar na luz sonâmbula da ausência, podemos tanto que inventámos Deus. Tu dizias que Deus era o teu personagem de ficção favorito."
(in "Fazes-me Falta", Inês Pedrosa)

Depois de um demorado período de interrupção, cheguei ontem ao fim da leitura de "Segredos de Anjos e Demónios" de Dan Burnstein. À semelhança de "Segredos do Código da Vinci", o livro traduz-se numa colectânea de artigos de especialistas que desmontam a obra de Dan Brown e faz a distinção entre aquilo que é a ficção e aquilo que é a realidade dos diversos temas abordados em "Anjos e Demónios", como o Vaticano, os Illuminati, Galileu, Bernini, a anti-matéria, o conflito ciência/religião, etc.
Dentre todos os capítulos enumerados sempre me suscitou um particular fascínio este último, o do conflito (ou não) entre ciência e religião, e, mais especificamente, o criacionismo/evolucionismo (recomendo vivamente o filme "The Inherit of the Wind"). Assunto controverso, delicado, de sempre e, provavelmente, para sempre.
A secularização da sociedade trouxe inquestionáveis benefícios à humanidade. Trouxe mais liberdade, mas, para muitos, também criou um vazio. Para o crente devoto, a ciência é vista como uma força ameaçadora que acabará com as reconfortantes promessas de paraíso, de vida eterna, justiça no Reino de Deus, etc. Para o não crente, a religião é vista como uma estrutura arcaica, desligada da realidade e sem qualquer sentido, já que a ideia de que existem forças sobrenaturais que governam o Universo e as nossas vidas é considerada totalmente absurda e fantasiosa.
Na minha humilde e, quiçá ingénua, opinião é exagerado falar-se de conflito. É certo que existiram momentos de enorme tensão (não posso desculpar a Inquisição!...), mas pontos de vista opostos não definem, exactamente, um conflito.
Muitos advogam que o progresso da ciência conduzirá lentamente para o desmascaramento do mito de Deus. Encaram a ciência como um substituto da religião, uma vez que através de novas descobertas corroboradas com teorias essencialmente matemáticas, esperam mostrar a inutilidade do conceito de Deus. Não posso deixar de dizer o quanto me parece impossível e mesmo absurda essa ideia. Não porque estejam em causa as minhas (des)crenças mas porque é ingénuo limitar a questão a isso. Falando de religião estão sempre implícitas questões muito mais remotas e profundas que não se devem ignorar...
Será que bastaria a ciência para pôr fim à religião? Só um tolo acreditaria nisso.
Independentemente da religião seguida (e que deriva em muito do meio em que nascemos e do que nos é transmitido), a vontade de "acreditar" parece universalmente enraízada no cérebro, seja qual for a cultura, e recentes estudos provam que existe no nosso ADN um gene que propicia a espiritualidade, isto é, está na base da nossa componente genética uma espécie de "vírus" religioso.
Diria mesmo que é mais...fácil e psicologicamente reconfortante acreditar. Existe em nós uma necessidade inata de tentar descobrir um sentido para as coisas, e nessa lógica, a religião surge (parafraseando Peter Berger) como "uma tentativa audaciosa de conceber todo o universo como humanamente significante". Ou, dizendo de outra forma, aquilo que é menos compreendido, geralmente, é temido ou venerado.
A necessidade de acreditar numa realidade sobrenatural que transcende a nossa existência terrena é tão antiga quanto a própria História. A morte e a consciência que dela temos torna-nos meros joguetes, indefesos, nas mãos do tempo e do acaso. Não é fácil aceitar o facto de os nossos dias estarem contados, que aconteçam acidentes ocasionais, que não exista uma finalidade mais elevada para a vida senão o que fazemos dela com as nossas escolhas. Por isso, procuramos respostas, criamos entidades para nos guiarem e protegerem, para nos confortarem, para, de alguma forma, nos fazerem esquecer o nosso limitado tempo de vida.
Pensar que seja possível que tudo aquilo que vemos seja uma ilusão, que a nossa razão e lógica sejam absurdas e tão arbitrárias como um qualquer jogo do Euromilhões, que não passemos de um fruto do acaso, um acidente da história que nada mais é senão uma amálgama de átomos, pensar que não existe um sentido, torna o mundo mais triste, depressivo (a tal angústia dos existencialistas) e sem piada. Deus surge-nos assim mais verdadeiramente não como uma entidade independente mas como um pretexto, uma fuga, como um "Deus das lacunas", que serve para preencher esse vazio, para explicar aquilo que não é passível de explicação...
Concluindo, devo dizer que julgo que não existe esse conflito de opiniões. Tratam-se somente de dois domínios distintos mas com muitos pontos de contacto. Duas janelas pelas quais as pessoas olham, tentando compreender o grande universo lá fora. Têm vistas diferentes mas dão para o mesmo universo. Ou, como disse Galileu, "a Bíblia diz-nos como ir para o céu, e não o céu funciona", isto é, a ciência tem a ver com o modo como funciona o mundo e a religião tem a ver com a ética e a moralidade. Não me parecem, portanto, incompatíveis, até porque o mundo não é a preto e branco mas tem várias tonalidades intermédias, e ninguém é detentor da verdade absoluta. O problema existe quando tendemos a ver aquilo em que acreditamos, em vez de acreditarmos naquilo que vemos...
Acho que a questão do evolucionismo/criacionismo perdurará em todas as gerações. Sou uma agnóstica nesse sentido, pois acho que há coisas que nunca nos será "permitido" desvendar. Haverá sempre algum mistério residual. De qualquer modo, a Natureza é muito mais inteligente do que nós, logo, só nos resta a nós, pobres mortais detidos neste vale de ignorância, reclinar e...admirar.

Psicóloga Política ou, numa palavra: Única! :)

Para não massacrar mais com posts sobre o aborto, permitam-me fazer um último comentário acerca de uma das públicas defensoras do Sim: Joana Amaral Dias.
Sempre gostei muito da sua forte atitude e ontem, ao ouvi-la a "dar coça" à Zita Seabra na TVI, tive a certeza de que a admiro. Jovem, bonita, perspicaz, inteligente...formação em Psicologia e ex-deputada pelo Bloco de Esquerda. Na minha opinião representa uma juventude empenhada, tem um futuro promissor pela frente e é um verdadeiro exemplo de que as mulheres não servem só para embelezar o Parlamento!
Não concordo com tudo o que defende, mas o que é preciso são pessoas com convicções. Força Joana! :)

Assim não

Para aliviar toda a seriedade inerente ao tema, aqui fica um delicioso registo dos Gato Fedorento. Sempre apreciei e respeito muito o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, mas não posso deixar de dizer o quão bem foi caricaturado! :D

A opinião de um Padre Sensato

"Numa questão tão delicada, com a vida e a morte em jogo, não se pretende que haja vencedores nem vencidos, mas um diálogo argumentado, para lá da paixão e mesmo da simples compaixão. Ficam alguns pontos para reflectir.

1. O aborto é objectivamente um mal moral grave. Aliás, ninguém é a favor do aborto em si, pois é sempre um drama.

2. A vida é um bem fundamental, mas não é um bem absoluto e incondicionado. Se o fosse, como justificar, por exemplo, o martírio voluntário e a morte em legítima defesa?

3. Para o aparecimento de um novo ser humano, não há "o instante" da fecundação, que é processual e demora várias horas.A gestação é um processo contínuo até ao nascimento. Há, no entanto, alguns "marcos" que não devem ser ignorados. É precisamente o seu conhecimento que leva à distinção entre vida, vida humana e pessoa humana. O blastocisto, por exemplo, é humano, vida e vida humana, mas não um indivíduo humano e, muito menos, uma pessoa humana.Se entre a fecundação e o início da nidação (sete dias), pode haver a possibilidade de gémeos monozigóticos (verdadeiros), é porque não temos ainda um indivíduo constituído.Antes da décima semana, não havendo ainda actividade neuronal, não é claro que o processo de constituição de um novo ser humano esteja concluído. De qualquer modo, não se pode chamar homicídio, sem mais, à interrupção da gravidez levada a cabo nesse período.

4. Sendo o aborto objectivamente um mal, deve fazer-se o possível para evitá-lo. Tudo começa pela educação e formação. Impõe-se uma educação sexual aberta e responsável para todos, que, não ficando reduzida aos aspectos biológicos e técnicos, tem de implicá-los, fazendo parte dela o esclarecimento, sem tabus, quanto à contracepção.

5. O aborto é uma realidade social que nem a sociedade nem o Estado podem ignorar. Como deve então posicionar-se o Estado frente a essa realidade: legalizando, liberalizando, penalizando?

6. Não sem razão, pensam muitos (eu também) que, se fosse cumprida, a actual lei sobre a interrupção da gravidez, permitida nos casos de perigo de morte ou grave e duradoura lesão para a mãe, de nascituro incurável com doença grave ou malformação congénita e de crime contra a liberdade e autonomia sexual (vulgo, violação), seria suficiente.

7. De qualquer forma, vai haver um referendo. O que se pergunta é se se é a favor da despenalização do aborto até às dez semanas, em estabelecimentos devidamente autorizados, por opção da mulher.Por despenalização entende-se que, a partir do momento em que não há uma pena, a justiça deixa de perseguir a mulher que aborta e já não será acusada em tribunal. Aparentemente, é simples. Mas compreende-se a perplexidade do cidadão, que, por um lado, é a favor da despenalização - despenalizar não é aprovar e quem é que quer ver a mulher condenada em tribunal? -, e, por outro, sente o choque de consciência por estar a decidir sobre a vida, realidade que não deveria ser objecto de referendo. O mal-estar deriva da colisão dos planos jurídico e moral.

8. Impõe-se ser sensível àquele "por opção da mulher" tal como consta na pergunta do referendo, pois há aí o perigo de precipitações e arbitrariedades. Por isso, no caso de o "sim" ganhar, espera-se e exige-se do Estado que dê um sinal de estar a favor da vida.Pense-se no exemplo da lei alemã, que determina que a mulher, sem prejuízo da sua autonomia, deve passar por um "centro de aconselhamento" (Beratungsstelle) reconhecido. Trata-se de dialogar razões, pesar consequências, perspectivar alternativas. A mulher precisará de um comprovativo desse centro e entre o último encontro de aconselhamento e a interrupção da gravidez tem de mediar o intervalo de pelo menos três dias. As custas do aborto ficam normalmente a cargo da própria.O penalista Jorge Figueiredo Dias também escreveu, num contexto mais amplo: "O Estado (...) não pode eximir-se à obrigação de não abandonar as grávidas que pensem em interromper a gravidez à sua própria sorte e à sua decisão solitária (porventura na maioria dos casos pouco informada); antes deve assegurar-lhes as melhores condições possíveis de esclarecimento, de auxílio e de solidariedade com a situação de conflito em que se encontrem. Sendo de anotar neste contexto a possibilidade de vir a ser considerada inconstitucional a omissão do legislador ordinário de proporcionar às grávidas em crise ou em dificuldades meios que as possam desincentivar de levar a cabo a interrupção"."

Anselmo Borges, Padre e professor de Filosofia

Doze Razões

por Vital Moreira
"Sou a favor da despenalização do aborto, nas condições e limites propostos no referendo, ou seja, desde que realizado por decisão da mulher, em estabelecimento de saúde, nas primeiras dez semanas de gravidez. Eis uma recapitulação das minhas razões.
1.ª - O que está em causa no referendo é decidir se o aborto nessas condições deve deixar de ser crime, como é hoje, sujeito a uma pena de prisão até 3 anos (art. 140.º do Código Penal). Por isso, é francamente enganador chamar ao referendo o "referendo do aborto" ou "sobre o aborto", como muita gente diz. De facto, não se trata de saber a posição de cada um sobre o aborto (suponho que ninguém aplaude o aborto), mas sim de decidir se a mulher que não se conforma com uma gravidez indesejada, e resolve interrompê-la, deve ou não ser perseguida e julgada e punida com pena de prisão.
2.ª - Não há outro meio de deixar de punir o aborto senão despenalizando-o. Enquanto o Código Penal o considerar crime (salvas as excepções actualmente já existentes), ninguém que pratique um aborto está livre da humilhação de um julgamento e de punição penal. Quem diz que não quer ver as mulheres punidas, mas recusa a despenalização, entra numa insanável contradição. Não faz sentido manter o aborto como crime e simultaneamente defender que ele não seja punido.
3.ª - A actual lei penal só considera lícito o aborto em casos assaz excepcionais (perigo grave para vida ou saúde da mulher, doença grave ou malformação do nascituro, violação). Ao contrário do que correntemente se diz, a nossa lei não é igual à espanhola, que é bastante mais aberta do que a nossa e tem permitido uma interpretação assaz liberal, através da cláusula do "perigo para a saúde psíquica" da mulher. Por isso, a única saída entre nós é a expressa despenalização na primeira fase da gravidez, alterando o Código Penal, como sucede na generalidade dos países europeus.
4.ª - A despenalização sob condição de realização em estabelecimento de saúde autorizado (por isso não se trata de uma "liberalização", como acusam os opositores) é o único meio de pôr fim à chaga humana e social do aborto clandestino. Esta é a mais importante e decisiva razão para a defesa da despenalização. Nem a ameaça de repressão penal se mostra eficaz no combate ao aborto, nem a sua legalização faz aumentar substancialmente a sua frequência. A única coisa que se altera é que o aborto passa a ser realizado de forma segura e sem as sequelas dos abortos clandestinos mal-sucedidos. Por isso, se pode dizer que a legalização do aborto é uma questão de saúde pública.
5.ª - Se se devem combater os factores que motivam gravidezes indesejadas, é humanamente muito cruel tentar impô-las sob ameaça de julgamento e prisão. É certo que hoje há mais condições para evitar uma gravidez imprevista (contraceptivos, planeamento familiar, etc.). Mas a sociologia é o que é, mostrando como essas situações continuam a ocorrer, em todas as classes e condições sociais, mas especialmente nas classes mais desfavorecidas, entre os mais pobres e menos cultos, que acabam por ser as principais vítimas da proibição penal e do aborto clandestino (até porque não têm meios para recorrer a uma clínica no estrangeiro...).
6.ª - A despenalização do aborto até às 10 semanas é uma solução moderada e, mesmo, comparativamente "recuada", visto que em muitos países se vai até às 12 semanas. Por um lado, trata-se de um período suficiente para que a mulher se dê conta da sua gravidez e possa reflectir sobre a sua interrupção em caso de gravidez indesejada. Por outro lado, no período indicado o desenvolvimento do feto é ainda muito incipiente, faltando designadamente o sistema nervoso e o cérebro, pelo que não faz sentido falar num ser humano, muito menos numa pessoa. Como escrevia há poucos dias um conhecido sacerdote católico e professor universitário de filosofia: "A gestação é um processo contínuo até ao nascimento. Há, no entanto, alguns "marco" que não devem ser ignorados. (...) Antes da décima semana, não havendo ainda actividade neuronal, não é claro que o processo de constituição de um novo ser humano esteja concluído."
7.ª - Só a despenalização e a "desclandestinização" do aborto é que permitem decisões mais ponderadas e reflectidas, incluindo mediante aconselhamento médico e psicológico. Embora o referendo não verse sobre os procedimentos do aborto legal, nada impede e tudo aconselha que a lei venha a prever uma consulta prévia e um período de dilação da execução do aborto, como existe em alguns países. Aliás, o anúncio de tal propósito poderia ajudar o triunfo da despenalização no referendo, superando as hesitações daqueles que acham demasiado "liberal" o aborto realizado somente por decisão desacompanhada da mulher.
8.ª - A despenalização do aborto nos termos propostos não viola o direito à vida garantido na Constituição, como voltou a decidir o Tribunal Constitucional, na fiscalização preventiva do referendo. No conflito entre a protecção da vida intra-uterina e a liberdade da mulher, aquela nem sempre deve prevalecer. O feto (ainda) não é uma pessoa, muito menos às dez semanas, e só as pessoas são titulares de direitos fundamentais e, embora a vida intra-uterina mereça protecção, inclusive penal, ela pode ter de ceder perante outros valores constitucionais, nomeadamente a liberdade, a autodeterminação, o bem-estar e o desenvolvimento da personalidade da mulher. Mas a punição do aborto continua a ser a regra e a despenalização, a excepção.
9.ª - A decisão sobre a legalização ou não do aborto não pode obedecer a uma norma moral partilhada só por uma parte da sociedade. Ninguém pode impor a sua moral aos outros. É evidente que quem achar, por razões religiosas ou outras, que o aborto é um "pecado mortal" ou a violação intolerável de uma vida, não deve praticá-lo. Pode até empregar todo o proselitismo do mundo para dissuadir os outros de o praticarem. Mas não tem o direito de instrumentalizar o Estado e o direito penal para impor aos outros as suas convicções e condená-los à prisão, caso as não sigam. A despenalização do aborto não obriga ninguém a actuar contra as suas convicções; a punição penal, sim.
10.ª - A despenalização é a solução a um tempo mais liberal e mais humanista para a questão do aborto. Liberal - porque respeita a liberdade da mulher quanto à sua maternidade. Humanista - porque é o único antídoto contra as situações de miséria e de humilhação que o aborto clandestino gera. Quando vemos tantos autoproclamados liberais nas hostes do "não", isso é a prova de que o seu liberalismo se limita à esfera dos negócios e da economia, parando à porta da liberdade pessoal. Quando vemos tanta gente invocar o "direito à vida" do embrião ou do feto para combater a despenalização, ficamos a saber que para eles vale mais impor gravidezes indesejadas (e futuros filhos não queridos) do que a defesa da liberdade, da autonomia e da felicidade das pessoas. Se algo deve ser desejado, devem ser os filhos!
11.ª - Na questão da despenalização do aborto é verdadeiramente obsceno utilizar o argumento dos custos financeiros para o SNS. Primeiro, o referendo não inclui essa questão, deixando para a lei decidir sobre o financiamento dos abortos "legais". Segundo, mesmo que uma parte deles venham a ser praticados no SNS, o seu custo não deve comparar desfavoravelmente com os actuais custos da perseguição penal dos abortos, bem como das sequelas dos abortos mal sucedidos.
12.ª - A despenalização do aborto, nos termos moderados em que é proposta, será um sinal de modernização jurídica e cultural do país, colocando-nos a par dos países mais liberais e mais desenvolvidos, na Europa e fora dela (Estados Unidos incluídos). A punição penal do aborto situa-nos ao lado de um pequeno número de países mais conservadores e mais influenciados pela religião (como a Irlanda e a Polónia). Mas por que motivo um Estado laico deve pautar o seu Código Penal por normas religiosas?"
(Público, Terça-feira, 23 de Janeiro de 2007)
in http://aba-da-causa.blogspot.com/2007/01/doze-razes.html